Deitou-se e fixou o olhar num ponto invisível no tecto. Relaxou os músculos e acomodou-se o mais que pôde àquela posição. Repetiu dentro de si um pequeno mantra e deixou-se estar. Ao fim de quatro dias naquela posição começou a sentir-se mais confortável: já não sentia os desconfortos do corpo, nem o seu peso, nem as suas maleitas. Sentia-se um bibelot, um tapete, um vegetal, só a sua mente vagueava, livre de inquietações. Alguns dias depois a mulher virou a cama para o sol e começou a regá-lo. Em pouco tempo a vegetação começou a crescer em si e em seu redor, uma flora variada que saltava ao olhar de quem entrava no quarto. A mulher estava maravilhada, todas as semanas convidava as amigas para tomar chá e estas gabavam-lhe muito o belo jardim. Os amigos apareciam ao fim-de-semana, montavam as tendas e passavam as noites a jogar poker e os dias a caçar javalis. Os seus filhos depressa descobriram que não havia melhor lugar para brincar às escondidas e aos polícias e ladrões. Em pouco tempo toda a gente se esqueceu dele, do seu nome e da sua fisionomia, e no entanto ele era feliz. Tinha tudo o que precisava.
1 comentários:
31 de março de 2009 às 19:55
Achou um propósito na sua imobilidade...
Um texto fantástico!
Abraços celestiais
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