tag:blogger.com,1999:blog-5657800836049273082024-03-13T02:10:23.479+00:00El Matadorem busca do unicórnio cor-de-rosa invisívelEl Matadorhttp://www.blogger.com/profile/17234767194000336960noreply@blogger.comBlogger344125tag:blogger.com,1999:blog-565780083604927308.post-24904235321164720332013-03-04T09:00:00.000+00:002013-03-04T12:28:54.634+00:00<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: red; font-size: large;">FIM</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: center;">
Uns começam pelo princípio,<br />
outros pelo meio, eu começo pelo fim.</div>
<div style="text-align: center;">
Dedicar-me-ei doravante à lascívia<br />
e ao comércio de armas. </div>
<div style="text-align: center;">
Sem pudor e sem vergonha<br />
como as pessoas normais.</div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="color: red;"><a href="http://www.youtube.com/watch?v=IWm03wYBTbM" style="font-size: small; text-align: left;" target="_blank">five years</a> </span> <span style="color: red;"> <span style="font-size: x-small;"><a href="http://www.el-killer.blogspot.pt/2009/03/bzzz-crssshhh.html" target="_blank">04/03/2009</a></span></span></div>
El Matadorhttp://www.blogger.com/profile/17234767194000336960noreply@blogger.com14tag:blogger.com,1999:blog-565780083604927308.post-14035232730996181582013-02-18T20:02:00.000+00:002013-05-28T21:44:03.336+01:00#345<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">Foi só depois de
ter batido com a cabeça pela segunda vez que me apercebi que já não sou uma pessoa
normal. Insociável desde cedo; vivo para o consolo de não comunicar com ninguém: único sobrevivente dum </span><span style="line-height: 24px;">Apocalipse</span><span style="line-height: 150%;"> autista. </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Nas viagens constantes que faço ao
passado lanço a âncora no fundo da memória. Atolo-me quase sempre na escuridão do lodo reminiscente enquanto chafurdo na ânsia de imagens felizes. As lembranças comportam-se qual areias
movediças; afundo tanto quanto me inquieto. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Agora quero
bater com a cabeça outra vez, a terceira, que oblitere para sempre a recordação
do tempo passado. Limpo e vazio viajo para as Ilhas Trobriand. Nasço ali um
homem novo, sem pecado, puro como Adão. Convivo jovial com os argonautas
do sul e nado à solta com os tubarões. Sem dor, sem memória, sem passado. </span></div>
El Matadorhttp://www.blogger.com/profile/17234767194000336960noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-565780083604927308.post-41592557380946738212013-02-02T18:24:00.000+00:002013-02-02T18:25:46.444+00:00...<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-OqZClv0nWKo/UQ1ZLL-JutI/AAAAAAAAAbI/YzuA8UvMOso/s1600/tumblr_me9jk08owa1rgqp70o1_500.gif" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="265" src="http://4.bp.blogspot.com/-OqZClv0nWKo/UQ1ZLL-JutI/AAAAAAAAAbI/YzuA8UvMOso/s400/tumblr_me9jk08owa1rgqp70o1_500.gif" width="400" /></a></div>
<br />El Matadorhttp://www.blogger.com/profile/17234767194000336960noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-565780083604927308.post-4881590334289171522013-01-29T19:29:00.001+00:002013-01-29T19:30:11.564+00:00#341<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- O que deus me
deu em beleza retirou-me em talento!</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Achas? Por
outro lado compensou-te em modéstia.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Como assim?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Não penses
mais nisso.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Podia ser tudo
o que quisesse se tudo o que eu quisesse não fosse: nada.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Sendo assim já
és tudo o que queres.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Explica.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Se tudo o que
queres é nada e se não és nada, és tudo o que queres.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Parece-me
confuso, mas sinto que há um pouco de verdade nisso tudo. O que eu queria mesmo era ser feio.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Feio e optimista
ou feio e realista?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Feio como as
pessoas feias que não têm nada e padecem os horrores de nascerem feias e pobres,
sem ninguém que goste delas, sem sorte, sem nada percebes? Horríveis,
angustiantes, sem graça, gordas, asquerosas, daquelas que uma pessoa primeira
controla-se e depois não aguenta mais e tem que dizer: Caraças! Que pessoa
tão feia.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- E tu querias
ser uma dessas pessoas porquê?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Queria sentir
o que a maioria das pessoas neste mundo sente. Queria saber como é.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- O quê?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- A angústia. A
dor de viver. Aquilo de que é feito a Arte. Mas, <i>helas</i>, sou belo e mágico e bom…</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- …E humilde.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Exacto.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><a href="http://www.youtube.com/watch?v=0KJrfHxOL-A" target="_blank"><span style="color: #e06666; font-size: x-small;">What's the ugliest part of your body?</span></a></span></div>
El Matadorhttp://www.blogger.com/profile/17234767194000336960noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-565780083604927308.post-43076137239675717832013-01-25T22:14:00.000+00:002013-01-25T23:24:50.825+00:00#339<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">É triste. É tudo
tão triste. Começa com um piano que marca preguiçoso um compasso simples,
pergunta e responde conforme avança. O executante parece não querer mais
levantar as mãos cada vez que as pousa no teclado. Arrasta depois uma melodia:
uns versos lentos e melancólicos como quem boceja nostálgico, como quem acorda
drogado de saudade. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Entra o violino…
Que angústia! Um sofrimento que se prolonga quase até deixar de ouvir-se, um
esgar no rosto, uma nota suspensa de aflição. O piano martela aqui e ali como
que a chamar para a realidade, mas o que se mantém é aquela expressão
paralisada de medo: uma boca de braços em baixo, um olhar de mãos pendidas. O
ambiente aquece com a voz semi-rouca do violoncelo que surge qual bálsamo
conciliador. Ameniza acolá a ferida aberta com uma escala ou duas.
Depois parece deixar-se levar pela entropia e mais não faz que sublinhar a dor.
Harmonizam os instrumentos; reparamos agora que também há uma espécie de
xilofone baixinho a sustentar todo o edifício. Agora estão todos de acordo: não
há nada a fazer, é deixar sufocá-lo, é deixá-lo ficar. Saem de cena, um a um,
os instrumentos ao de leve, como uma brisa que se deixa de sentir. Fica apenas
o violino, em suspenso como entrou: um chorar baixinho sem lágrima, uma nota só
que se mantém equilibrada sob ameaça de extinção, indelével, incorrupta, como o
passado que paralisa à noite, como uma droga. </span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: xx-small;"><a href="http://www.youtube.com/watch?v=Dm1BigJoK00" target="_blank">Moon</a></span></div>
<br />El Matadorhttp://www.blogger.com/profile/17234767194000336960noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-565780083604927308.post-68907501686040124192013-01-18T23:49:00.000+00:002013-01-19T19:46:20.188+00:00Espelho Meu, Espelho Meu...<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<i>Tenho a alma em
carne viva</i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<i>E os cordões
desapertados</i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<i>Cada vez que
troco os passos</i></div>
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><i>Desfaço-me em mil bocados</i></span><br />
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><br /></span>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">Hoje de manhã, no
acto de me pentear e tentando alinhar os pêlos mais </span><span style="line-height: 24px;">revoltos</span><span style="line-height: 150%;"> da ruiva barba que
me caracteriza, dei comigo a pensar: caramba pá, és um gajo deveras bonito. Acto
contínuo resolvi convidar-me para jantar. Uma coisa impessoal lá em casa, com
umas velas de cheiro, um vinho branco e uma massa feita à pressão. Já há umas
semanas que me circundava e mandava umas indirectas, a apalpar terreno, mas
nada… Nunca quis saber de mim. Hoje no entanto, fazendo uso de umas falinhas
mansas que só eu conheço e aproveitando que estava um tudo nada invulnerável,
telefonei-me e lá consegui convencer-me. Cheguei mais cedo que o combinado com uma
garrafa de </span><i style="line-height: 150%;">vino </i><span style="line-height: 150%;">e um ramo de flores.
Oh! Emocionei-me, não era preciso, Qual quê? Eu sou mesmo assim, um romântico </span><i style="line-height: 150%;">invertebrado. </i><span style="line-height: 150%;">Como cheguei antes da hora marcada dei comigo
ainda a fazer o jantar. Abri a garrafa de </span><i style="line-height: 150%;">vino</i><span style="line-height: 150%;">
e servi-me generosamente. Gosto de beber vinho enquanto me ensaio na cozinha.
Ultimamente acho que cozinho apenas como desculpa para poder abusar do </span><i style="line-height: 150%;">vino</i><span style="line-height: 150%;">. Sentei-me à mesa e ataquei as
entradas de queijo derretido com orégãos e azeite que tinha preparado. Hummm! Que
bom! Comentei e agradeci-me. Com o prato principal enchi mais um copo de </span><i style="line-height: 150%;">vino</i><span style="line-height: 150%;"> e brindei-me. Que maravilha,
pensei, isto está a correr muito melhor do que tinha planeado. Geralmente fico
nervoso quando recebo visitas, mas desta vez, até me estava a portar
condignamente. Fiz os brindes habituais para um futuro e saúde melhor e
aproveitei como sempre para falar sobre mim: dúvidas, angústias e tudo mais.
Abanei a cabeça, fingindo-me interessado enquanto me ouvia: sou um bom ouvinte,
e para mais, conhecia bem aquela história. Depois do jantar, a </span><i style="line-height: 150%;">pièce de résistance</i><span style="line-height: 150%;"> foi o whisky de
malte com que me felicitei. Não há dúvida que só uma pessoa como eu é que me
pode conhecer desta forma: pois se era exactamente a marca que costumo beber, mais
do que devia, advirto-me, ultimamente parece que tenho abusado do licor dos
deuses (da Escócia), sim, sim, mas não há-de ser por causa de uma noite que há-de
vir o mal ao mundo, retorqui. Tens razão, concordei e enchi mais um copo. Depois,
já no quarto, como se estivesse num qualquer <i>simpósio</i> questionei-me sobre o sentido do Amor. Parece que tenho andado a ler Platão às escondidas, <i>O Banquete</i>, nos intervalos dos intervalos de quando não faço nada. Pela
parte que me toca, argumentei, o amor são duas linhas paralelas que se cruzam de vez
em quando e que nunca se hão-de
encontrar nem no infinito, e disto não se lembrou Platão. É bem verdade, anuí,
pode dar-se o caso que nem sequer sejam paralelas, as linhas, e que uma seja
apenas uma projecção da outra, ou seja, a outra nunca esteve lá, compreendes?
Compreendo perfeitamente, já estás bêbado! Não é por aí, expliquei-me, a outra
linha nunca esteve lá, era apenas uma ilusão, um engano. É possível! Tenho que
escrever isto! Sentei-me ao computador sem reparar que me tinha deixado
desamparado à porta do quarto. Daí observei-me sentado ao PC em efervescente agitação
de conceitos que se escapavam pelo teclado, vítimas de um jantar e noite bem
regadas. Despedi-me até uma próxima altura mas sinceramente nem dei por ter
saído. Acabei com a excelsa liquidez caledónia e estirei-me ao comprido na cama, na diagonal, como gosto de fazer de vez em quando em noites de lua nova. Pensei em mim e na rudeza que foi o não me ter acompanhado até à porta. </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">Adormeci a borbulhar em malte na certeza porém de que
iria acordar bem acompanhado.</span></span></div>
<br />
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><br /></span>El Matadorhttp://www.blogger.com/profile/17234767194000336960noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-565780083604927308.post-20240735992676474132013-01-15T21:56:00.000+00:002013-01-15T23:43:32.194+00:00Às Portas de Kiev no Inverno<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-8pEA7lRqKbI/UPXHrxtdbLI/AAAAAAAAAac/0ITdN3nuwPI/s1600/tumblr_md1hecgZzc1qfe15uo1_500.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="192" src="http://2.bp.blogspot.com/-8pEA7lRqKbI/UPXHrxtdbLI/AAAAAAAAAac/0ITdN3nuwPI/s320/tumblr_md1hecgZzc1qfe15uo1_500.gif" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">Dou comigo uma e
outra vez a retornar ao café onde se assistem a jogos de futebol 24 horas por
dia. A população continua na mesma: mines firmemente em punho, beatas
dependuradas do canto da boca, pescoço levemente inclinado para o ecrã gigante
e um dos braços poisado sobre a perna traçada, sempre pronto a violentar o
tampo da mesa em caso de prevaricação por parte do árbitro. A linguagem também
se mantém a mesma: caralhadas a torto e a direito e o ocasional filho-da-puta quando se trata de mencionar o já referido </span><span style="line-height: 24px;">juiz. </span><span style="line-height: 150%;">O que também se mantém firme no seu
posto são as mamas da ucraniana que serve ao balcão. Duas luas cheias a rebentar
por dentro do soutien, que me agitam as marés vivas sempre que vou tomar café. </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Ultimamente
tens vindo muito aqui! – Grunhe o meu vizinho do rés-do-chão, pessoa que detesto e que é uma das alimárias frequentes no recinto. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- É verdade,
descobri que o café me faz bem, ajuda-me a concentrar…– minto descaradamente,
o café faz-me horrivelmente mal, sendo uma das questões que mantenho com o meu
médico. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Encosto-me ao
balcão e peço um café à Ucraniana. Aproveito a interacção para lhe elogiar a
nova cor com que pintou o cabelo. Ela mira-me desinteressada e com secura: <i>da, da</i>. Sinto o ar gelado como se estivesse às portas
de Kiev no inverno.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Reparei
entretanto que o tipo dela passa pelo homem macho, o mecânico com as mãos ainda
sujas de óleo, o trolha com as calças manchadas de cimento e por aí a fora. Por isso fiquei uma vez sem tomar banho durante 3 dias, rebolei-me na
terra molhada depois de chover (para grande espanto de uma
senhora que passeava um caniche) e por fim coloquei o inevitável palito ao canto da boca. Cheguei
ao café com a blusa de alças toda cagada à Bruce Willis, pedi um café e um
bagaço com a voz rouca à Tom Waits, e, como a Ucraniana estava de folga nesse dia a única coisa que fiz foi figura de parvo. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Andas a
estudar para sem-abrigo? – Perguntou sarcástico o cabrão do rés-do-chão. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Como
se não bastasse ainda apanhei uma valente constipação.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Aiai – Resmunga o médico sem olhar para mim enquanto passa a receita – Olha que o
café faz-te mal, pá! Mas as mamas dessa ucraniana ainda te fazem pior.</span></div>
El Matadorhttp://www.blogger.com/profile/17234767194000336960noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-565780083604927308.post-53208215110581037862013-01-14T20:20:00.000+00:002013-01-15T15:40:41.614+00:00Na Fronteira Com a Rússia<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Pessoalmente
sinto-me uma matrioshka. Sou oco e arredondado e existem vários cá dentro. Vi-as
uma vez à venda na fronteira com a Rússia mas não comprei nenhuma. Assombrou-me
a forma como se pareciam comigo. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Por fora também
sou grande e prometo muito. Quem me vê ao longe até pensa antes de se aperceber
da minha vacuidade, eh lá, o que é aquilo que ali vem? Depois desatarraxam-me a
cabeça só para encontrar lá dentro uma versão mais pequena e mais mesquinha de
mim. Uma e outra vez repetem a operação e lá vão surgindo <i>eus</i> cada vez mais absurdos,
brutais, coléricos, cínicos, invejosos e sempre que isso acontece diminuo de
tamanho perante os olhares espantados da multidão. Que prodígio é este
perguntam, o homem tem que estar em algum lado. Enganam-se redondamente. E
camada atrás de camada, como se faz à cebolas, vão-me desmanchando, com a fúria
avassaladora de quem se atola no lodo e não encontra a agulha no chiqueiro. Acabo
por aparecer na última peça, compacto e indivisível, sujo, intratável, boçal,
patético, minúsculo e imprestável. Ah! Exclamam, é só isto? Agito furioso os
bracinhos num frémito enervante. Alguém me dá um pontapé que me deixa deitado de
costas a espernear, como as baratas depois de pisadas. Brado aos céus insultos a todos os deuses mas a voz sai-me esganiçada. De tanto remexer acabo soterrado
na lama e toda a vida me sabe mal. </span></div>
<br />El Matadorhttp://www.blogger.com/profile/17234767194000336960noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-565780083604927308.post-32969978345676765432013-01-12T00:10:00.000+00:002013-01-12T02:00:08.904+00:00Da Assimetria do Cansaço<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-NCQPiQswhss/UPCmMtMDS4I/AAAAAAAAAaM/0G7nlljeDOM/s1600/tumblr_mez43rUE5U1rob81ao10_r1_250.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-NCQPiQswhss/UPCmMtMDS4I/AAAAAAAAAaM/0G7nlljeDOM/s1600/tumblr_mez43rUE5U1rob81ao10_r1_250.gif" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Não há mais a
dizer que não seja: o cansaço. O cansaço comanda a vida. Insurge-se-lhe
sub-repticiamente. Baralha-lhe as ideias. Obstrui-lhe o senso comum, a decisão
sensata. O cansaço toma decisões independentes de um cérebro que não o consegue
controlar e no fim desculpa-se: <i>foi o
cansaço</i>. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Está na base de
todos os <i>ismos</i> de todas as guerras e
revoluções. Foi por cansaço que o Cristo se deixou levar ao monte Gólgota. Entregou-se de corpo e alma à fustigação tonitruante, em virtude da amnistia de um povo criado
e abençoado por deus. Deus, que ao fim e ao cabo eram ele e mais dois transfigurados
num só. A diversidade na unidade. «Que canseira!» disse Pilatos ao tentar compreender o paradoxo, e ainda
que lhe esperasse nas termas um banho quente numa infusão de ervas aromáticas,
ficou-se por uma simples lavagem de mãos. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Até Judas, o
apóstolo inteligente, cansou-se um dia de toda a mistificação do cansaço perene.
Farto de dar a outra face e de amar o próximo; farto dos milagres de pacotilha,
da política em prol dos pobres e desfavorecidos, dos reformados, dos doentes, dos
cegos e paralíticos, dos ciganos e bombeiros, dos viciados em láudano; alardeou um dia: <i>fuck you guys, i’m goin’ home</i>!
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">«Quem é que eu
tenho que beijar para sair deste cansaço miserável?»- Perguntou o apóstolo
inteligente antes de perder as botas (que na verdade eram sandálias) no seu próprio cu. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Hoje passei por
uma estante no <i>sweet drop</i> onde se
oferecia um copo de whisky na compra de
uma garrafa. Eu como gosto de copos e promoções agarrei de imediato na
garrafa. Mais tarde regurgitei: com o dinheiro daquela garrafa poderia ter comprado
cinquenta copos. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Mas tal como o Cristo redentor, deixei-me sacrificar ao deus antropomórfico
dos mercados, do dinheiro e da economia. «Deus é o dinheiro, só é salvo quem o
adorar» cantou a sábia e não menos
cansada Lena d’Água nos idos de oitenta. Estar cansado é condição <i>sine qua non</i> para se ser cidadão deste cubículo golfista, como
atesta o próprio documento na sua designação: C.C. – Cartão de Cansaço.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Nós o que
precisamos não é de austeridade nem de subsídios em <i>duodenos</i>. Não precisamos da imaginária Europa prostituída, nem sequer dum pangermanismo pós-moderno disfarçado de gorda arrogante.
O que a malta precisa é de descanso…Ou então de uma guerra: provam as
estatísticas que durante as guerras os suicídios baixam consideravelmente.</span></div>
El Matadorhttp://www.blogger.com/profile/17234767194000336960noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-565780083604927308.post-51861198968096311502013-01-05T00:04:00.001+00:002013-01-09T01:05:35.768+00:00#334: Mines, Minduíns e Dirigíveis<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 150%; text-align: justify;">Fui tomar café
com o intuito de despertar as ventas e dar um pouco de passeio às gorduras
depois do jantar. É certo que não devia beber café, segundo o médico, a cafeína
é um dos muitos alcalóides que me são prejudiciais à saúde. É por isso que o acompanho
sempre com um balão de whisky, não vá o outro entrar todo puro e despudorado
pelo estômago adentro como se tivesse num concerto rock. Digo isto porque ouço
<i>Led Zeppelin</i> enquanto escrevo estas linhas: é banda de adolescência que já não
ouvia há muito e hoje apeteceu-me. Talvez por ter vindo motivado do café.
Encostei-me ao balcão e pedi um café, ou melhor, resolvi a confusão da
empregada que sempre que me vê nunca sabe se quero um descafeinado ou um café a
sério, como os homens. No ecrã gigante da parede passava um jogo de futebol do
campeonato de Espanha, digo passava porque nestes estabelecimentos às vezes dá-se
o hábito de se verem os jogos do dia anterior quando não são </span><i style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 150%; text-align: justify;">in extremis</i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 150%; text-align: justify;"> de uma outra época. É uma
espécie de fé inabalável, típica do fã de bola: </span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 150%; text-align: justify;"> </span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 150%; text-align: justify;">esperar que no dia a seguir a sua equipe acabe
por ganhar o jogo que perdeu no dia anterior. Não façamos no entanto juízos de
valor, existem crenças mais absurdas. O que os homens gostam a sério é de estar
em conjunto, mesmo que em mesas separadas torcendo por equipas diferentes. O homem
cultiva a sua </span><i style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 150%; text-align: justify;">homenzorrazuidade</i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 150%; text-align: justify;"> com fervor
religioso e é isso que o une em volta do cálice divino da </span><i style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 150%; text-align: justify;">mine </i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 150%; text-align: justify;">e da hóstia consagrada do </span><i style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 150%; text-align: justify;">tramoço.</i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 150%; text-align: justify;">
Reparei nisto com um olho enquanto que com o outro apreciava o decote generoso
da ucraniana do balcão (sim, sou vesgo além de gordo). Sempre que havia um </span><i style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 150%; text-align: justify;">quasi</i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 150%; text-align: justify;"> golo ou uma entrada daquelas mesmo
duras (esta expressão aprendi lá) os indivíduos agitavam-se como fiéis de uma
igreja baptista, levantavam os braços e davam graças ao deus do catechu.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><i>Porra! Ia sendo!
Ah caralho!</i> Foram alguns dos aleluias que depreendi fizessem parte do culto. Tentei
repeti-los em ocasiões que me pareceram adequadas no intuito de me integrar;
até porque notei que a moça de leste nutria um espécie de ternura por demonstrações
de virilidade sedentária-etílica, e eu, como tenho um fraco por moças oriundas daquela
linha que vai do Báltico ao Mar Negro tentei portar-me à altura. Dei por mim a
coçar os testículos (outra profissão de fé) e a pedir mais <i>mínduins</i>. </span></div>
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Como se a gaja
não reparasse puto em mim, ainda que eu me tenha tornado num macho latino
instantâneo, resolvi que estava na altura de me sobrepor àquela horda de
grunhos embrutecidos, ou não fosse eu um adepto ferrenho daquela equipa que
tinha a camisa às riscas. <i>Ah! Caralho. Quase que ia fonde! </i>– gritei à bruta ao
mesmo tempo que bati com a <i>mine</i> no
balcão num acto que tinha tanto de desiludido como de irritado. A lituana olhou-me
com ar espantado assim como o resto dos meus congéneres: parece que o jogo já
tinha acabado há pelo menos meia hora. Fiquei atabalhoado como sempre fico
quando mais que uma pessoa olha para mim, no entanto não me desfiz: </span></div>
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- A culpa desta
merda é do árbitro! </span></div>
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Saí de cabeça
erguida; o consenso era geral, a culpa tinha sido mesmo do árbitro e da sua mãe
que pelos vistos mantém um ocupação <i>freelancer</i>
por detrás do Hotel Eva. </span></div>
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Não engatei a moldava
mas descobri o homem que havia em mim. Até hoje eu nunca passara de uma Elisabete
Sofia intelectualóide, incapaz de tomar conta fosse do que fosse, mas agora sim
eu era um verdadeiro Romualdo Alizando Cresce, de micose no escroto e arroto leguminoso;
isto tudo numa noite, sem nunca ter ido à tropa. </span></div>
</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="color: red; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: x-small;"><a href="http://www.youtube.com/watch?v=_JybkqBGrVs" target="_blank">The Rover</a></span></div>
<br />El Matadorhttp://www.blogger.com/profile/17234767194000336960noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-565780083604927308.post-3054462422529153252012-12-28T22:41:00.000+00:002012-12-29T18:44:29.075+00:00#333: Metade da Besta <br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-iXF_Smlnhdo/UN4fuOZkOtI/AAAAAAAAAZE/3Uu7KUS4O_w/s1600/tumblr_mezk0vcbwV1qil3j5o1_500+(1).gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="192" src="http://1.bp.blogspot.com/-iXF_Smlnhdo/UN4fuOZkOtI/AAAAAAAAAZE/3Uu7KUS4O_w/s320/tumblr_mezk0vcbwV1qil3j5o1_500+(1).gif" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><br /></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><a href="http://anonimadosenes.blogspot.pt/" target="_blank"><span style="font-size: x-small;">“odeio quem me rouba a solidão sem em troca
me oferecer verdadeira companhia.”</span><o:p></o:p></a></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><a href="http://anonimadosenes.blogspot.pt/" target="_blank">Irvin D. Yalom</a></span><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><br /></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Feliz Ânus
Novo!</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> Foi a última coisa que ele ouviu, depois de deixar
cair o sabonete no duche.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
El Matadorhttp://www.blogger.com/profile/17234767194000336960noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-565780083604927308.post-25339519098856782582012-12-25T19:42:00.000+00:002012-12-25T19:42:16.063+00:00...<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-DwqnI1mx5P0/UNoBF8uvIXI/AAAAAAAAAY0/-q9L--soXDM/s1600/vlcsnap-2012-12-25-19h02m57s60.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="265" src="http://4.bp.blogspot.com/-DwqnI1mx5P0/UNoBF8uvIXI/AAAAAAAAAY0/-q9L--soXDM/s640/vlcsnap-2012-12-25-19h02m57s60.png" width="640" /></a></div>
<br />El Matadorhttp://www.blogger.com/profile/17234767194000336960noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-565780083604927308.post-7469807239537968692012-12-24T22:25:00.000+00:002013-05-28T21:48:54.642+01:00Há Sempre um MacClaúdio em Cada Solstício<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Quando chega a
noite de natal, existem apenas duas tradições que respeito com fiel ardor e
devoção. Uma é ali da região de Borba e a outra é oriunda da Escócia. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Abstenho-me do peru e quejandos bacalhaus em prol desta maravilhosa fusão de
culturas: a alentejana e a celta. Não sou xenófobo nas tradições nataleiras; apetecem-me
também tabacos de outras regiões, de texturas moles e aromáticas, mas isso são
apetites que não posso satisfazer, com grande pena e saudade minha.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Se pensarmos
bem, não é assim tão estranho celebrar o
natal encalhado entre tão distantes etnografias. Uma já foi berço de imortais e
a outra é frequentemente visitada por extraterrestres. Ambas têm um sotaque
deliciosamente carregado; ambas permitem o uso de saias ao domingo e ambas
aliviam o fardo da existência em pequenas doses intercambiáveis. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">É uma noite
calma e silenciosa a do nosso salvador, uma noite de recolha e paz. Saio
portanto trajado a rigor: tomates à solta por debaixo da saia padronizada, peitos
musculados ao léu como que a desafiar o
temperamento dos deuses pagãos. Coço o escroto vítima de micose meridional e possuído de uma vetusta ânsia andaluz, mijo em cada um dos 18 buracos do campo de golfe
junto ao mar; como se fosse um <i>highlander
</i>sem capote<i>.<o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><i>- <b>There can be only one ! -</b> </i>Exclamo em
voz alta.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> – E que seja
de Borba! – Acrescento depois à laia de conciliação cultural.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="color: magenta; font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="color: magenta; font-family: Verdana, sans-serif;"><i><a href="http://www.youtube.com/watch?v=sc54vcmcZKA" target="_blank">Sad Song</a></i></span></div>
El Matadorhttp://www.blogger.com/profile/17234767194000336960noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-565780083604927308.post-89796001646201078772012-12-21T23:23:00.000+00:002012-12-21T23:23:16.440+00:00Como o Sódio Sem Cloro<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 14.2pt; margin-right: 70.8pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<i><span style="font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">“Estamos sós e sem desculpas. É o que traduzirei dizendo que
o homem está condenado a ser livre. Condenado porque não se criou a si próprio;
e, no entanto, livre porque, uma vez lançado ao mundo, é responsável por tudo
quanto fizer.”<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 14.2pt; margin-right: 70.8pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<i><span style="font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">J.P. Sartre<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">Sei que estou nu
e ainda assim apresento-me a tribunal. Entrego-me à mercê dos meus pares no estado em que vim ao mundo: transparente e impoluto. Sem mágoas, sem apelos, sem agravos.
Sou tudo o que está à vista. Assumo a tremenda estupidez, arrogância e </span><span style="line-height: 150%;">inépcia de me comportar como um ser pertencente
à humanidade. Não valho nada, estou consciente e em paz. Conhece-te a ti
próprio, alvitram as filosofias; é isso que faço: conheço-me a cada dia que
passa e </span><span style="line-height: 150%;">a cada dia sinto mais asco
daquilo que sou: um verme vermelho e verde, uma viscose daninha, um vírus vaidoso.
</span><i style="line-height: 150%;">Mea Culpa</i><span style="line-height: 150%;"> por tudo o que fiz e por
tudo o que ainda virei a fazer. É muito
importante prevenirmo-nos de pessoas como eu, Meritíssimo. Se me deixam a sós e
sem supervisão, isto é, se me deixam tomar decisões baseadas no livre arbítrio,
então declaro ser um individuo perigoso. Não sou fiável admito, sou cruel e
traiçoeiro; sou instável como o sódio sem o cloro; mereço o cadafalso, uma guilhotina que me apazigúe, digníssimos.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Um dia saí à rua
e fui mau porque pude, e essa foi a mais forte das drogas que já tomei, também a
mais viciante.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Não tenho medo
de deus, senhor doutor, tenho medo de mim; é que, sabe senhor doutor, de mim eu já
senti as dores, deus nunca vi.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Por esta altura
um meirinho fustiga-me os genitais com uma vara de bambu, só para ver se ainda funcionam uma vez que se dependuram ressequidos. Ai! Exclamo deveras incomodado, a madeira quando ofende as partes pudibundas tende a ser dolorosa, e lá está, as dores
eu sinto.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">É um facto que
está vivo, declara o Supra Sumo Supremo Meritíssimo. É um facto que é culpado. Deverá
portanto ser exposto como exemplo. Atirem-no pela janela besuntado de mel, depois soltem as vespas.</span></div>
<br />
El Matadorhttp://www.blogger.com/profile/17234767194000336960noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-565780083604927308.post-23965439787359662532012-12-19T19:45:00.000+00:002013-03-23T12:36:57.019+00:00Eu Não Sou o Elvis<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Sei que me
tornei um epicurista quando até o som do vinho a bater no fundo do copo me dá
prazer. É um acto que alegra todos os sentidos, o beber. E se houve quem se tenha
lembrado que não era satisfeita a audição, logo houve quem de imediato
inventasse o tchim-tchim. Quem me contou isto foi um amigo meu, numa noite de
grande bebedeira. Disse isto e adormeceu com a cabeça encostada ao lancil e o
corpo exposto à estrada: a imagem clássica do anjo caído, com a devida ressalva
de o meu amigo não ser nenhum anjo. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Pois então,
digo-vos eu que me tornei num epicurista invertebrado. Não, não corrijam o
português, é mesmo invertebrado que queria dizer. É assim que me sinto quando
me dão aqueles ataques de Epicuro, em que tudo me é indiferente e a vida passa
lentamente envolta numa estranha modorra. É sempre por alturas do natal que me
entrego mais afincadamente a estas práticas de lascívia e entorpecimento. Deve
ser por ser esta a quadra que me é mais querida; quando toda a gente é honesta
e boazinha e troca prendas desinteressadamente. A imagem do menino, eternamente
nas palhas deitado, rodeado de duas vacas e dois burros inspira-me deveras. E por isso deito-me
também, e fico ali, todo empalhado, a contemplar o azul do tecto. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Que não devia
misturar <i>drunfos</i> com o álcool, insistem
os meu amigos, que faz mal, que podes sufocar no vómito. O que eles não sabem é
que eu faço isto sempre em jejum, e por isso não corro riscos. Além disso o
Elvis fazia a mesma coisa e ainda ia para cima do palco lá em Las Vegas, todo
gordo, cantar o <i>love me tender</i> com
aquela voz de cú que ele tinha. Se o Elvis pode eu também posso, caraças. O que
é que o Elvis tem a mais do que eu? Eu também sou gordo e desleixado. Eu também
tenho uma voz irritante às vezes quando estou bêbado e quase sempre quando
estou sóbrio. Eu também gosto de aos domingos me vestir de fato de macaco de
cetim branco às estrelinhas azuis, e abanar as ancas em frente ao espelho. A
única diferença entre mim e o Elvis é que eu não sou parolo. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Olha, por falar
nisto, sinto que vem aí outro ataque daqueles; maldito epicurismo que se apega
à gente como sarna. Fito o tecto azul e deixo-me embalar num emaranhado de
ideias parvas. Ahahah, o Elvis é que havia de gostar disto.</span></div>
El Matadorhttp://www.blogger.com/profile/17234767194000336960noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-565780083604927308.post-63863216207088534662012-12-16T02:01:00.000+00:002012-12-24T21:29:46.607+00:00O Enquadramento<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 24px;">
</div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; text-align: justify;">Olho as fotografias e imagino que és real e que estás aqui. Sinto que te conheço, como se tivéssemos feito parte um do outro numa qualquer realidade paralela. Às vezes consigo até sentir o cheiro que emanas por debaixo dessa minissaia tímida, tracejada de negro em fundo branco. Gostava de rasgá-la e deixar-te montada nessas pernas longas e torneadas que se apoiam em sapatos de altos saltos negros. Ai! Que visão.</span></div>
<div style="line-height: 150%;">
</div>
<div style="line-height: normal;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Encostava-te a esse corrimão que atravessa o enquadramento de uma ponta a outra, virada de costas para mim, mala vermelha na mão, e aí sim, entrava em ti, como um animal mítico esfaimado; um Minotauro espumando sexo pela glande. E nisto baralhar-se-ia Teseu perante tamanha cópula, e Dédalo, o perfeito <i>designer</i>, construiria asas inspiradas em orgasmos alados, libertadoras do labiríntico determinismo do homem, do mundo, da história, da guerra e da desigualdade. E no fim, visto de longe, sobraria apenas a fusão dos dois corpos, pairando no ar, nem tão perto do sol nem tão longe, de forma a não se derreter nunca a cera primordial; ali, no meio-termo, como aconselhou Dédalo e o Buda.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="http://www.youtube.com/watch?v=kcMEx4OHLOs" target="_blank">Pictures of You</a></div>
<br />
<br />El Matadorhttp://www.blogger.com/profile/17234767194000336960noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-565780083604927308.post-71378713168471300272012-12-15T23:14:00.000+00:002012-12-16T02:12:14.322+00:00O Rei-Lua Postiço*<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: x-small;">[…] O corrido, o raimoso, o
desleal<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: x-small;">O balofo arrotando Império
astral<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: x-small;">O mago sem condão, o Esfinge
Gorda.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: x-small;"> </span><span style="font-size: x-small;">(</span><i><span style="font-size: x-small;">in</span></i><span style="font-size: x-small;"> </span><span style="font-size: x-small;">Aqueleoutro</span><span style="font-size: x-small;">, M. de Sá-Carneiro, 1916)*</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">E é assim que passo os momentos de ócio: em ociosidade.
Rebolo-me vagaroso na cama de casal que ocupo de forma singular; gordo, flácido, boçal. Passo os
dias nesta forma amorfa de banha espalhada pelas colchas. Não há sentido na
vida que não seja engordar, tudo nas estrelas assim o indica, e eu, não gosto
de contrariar os astros. Reviro os olhos num bocejar <i>benzodiazepino</i>; a luz do
sol filtrada pelas persianas, forma um padrão de luz nas mantas que me tapam.
Acordo de tempos a tempos e vejo que o padrão se move da esquerda para a
direita, da cama para a parede, da parede para o tecto: é assim que meço o tempo.
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">Sou um monte disforme de gordura e chocolate. A mão escorrega
o suficiente para alcançar a garrafa de vinho; e, é só porque preciso de
enxaguar os dentes: há pedaços de carne que se recusam a abandonar os </span><span style="line-height: 24px;">interstícios. </span><span style="line-height: 150%;">Uma boa higiene oral é tudo, dizem na rádio; é verdade, tenho o
rádio ligado. As notícias de meia em meia hora confundem-me os sonhos; às vezes
sonho que estou na rua a ser entrevistado e que sou belo e magro e ágil,
articulo elegante o discurso quando digo que “isto não vai nada bem!”. Acordo de
tempos a tempos com o sal da baba solidificado nos cantos da boca e rebolo-me
um pouco mais; há que mudar de posição de quando em vez, para evitar a criação
de chagas no corpo.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Chove! Que bom que é ouvir a chuva na cama. As gotas a
percutirem na janela são como pequenos comprimidos para dormir quando chegam ao
cérebro: entorpecem e acalmam-no. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Diz que o mundo está quase a acabar. Gostava de ver isso.
Imagino-me deitado; sonolento e muito balofo; arrotando chocolate da América
Central, como o um dos Maias. E pensar a quando das primeiras bolas de chamas que irrompessem pela atmosfera: </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">- Ah! Maria Eduarda, não soubesse eu o que sei hoje e
tivéssemos nós mais tempo, ainda era moço para te dar mais uma. </span></div>
El Matadorhttp://www.blogger.com/profile/17234767194000336960noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-565780083604927308.post-82879345069013507862012-11-23T23:40:00.001+00:002014-03-16T14:25:23.611+00:00Honk-Logia I<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Quando tinha cinco anos, o meu pai levou-me a visitar
o seu local de trabalho. Depois de logo à entrada ter sido vítima dos habituais puxões de
bochechas e esfreganços de cabelo, acompanhados do clássico “Ah! Campeão”, subi
até ao primeiro andar, sempre guiado pela mão forte e enorme (aos meus olhos) do
meu pai. Foi apenas um segundo, contou-me ele mais tarde, em que para cumprimentar
um colega, o meu pai me deixou da mão. Nesse instante, parece que consegui
enfiar-me pelas varetas das escadas e mergulhar de cabeça, qual torpedo, rumo
ao rés-do-chão. Do que se seguiu não tenho relatos, mas imagino que tenha sido
o pânico. A minha mãe uma vez contou-me
que a minha cabeça parecia uma melancia em tamanho, com a orelha
esquerda completamente dobrada, tal era o tamanho do hematoma. É claro que as
mães exageram sempre, mas ainda hoje tenho um alto no lado esquerdo da cabeça,
para não me esquecer de uma queda que ainda hoje não me lembro.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Trinta e cinco anos depois, quando estava na fase terminal de
um cancro na próstata, o meu pai chorava sempre que eu o ia ver ao hospital. As
enfermeiras estranhavam muito pois parece que o meu pai, mesmo cheio de dores
mantinha o sentido de humor; chegando mesmo a mandar uns piropos de vez em
quando. No entanto, sempre que eu atravessava as portas da enfermaria, era um
pranto que só visto. <i>Pareces uma Madalena, homem!</i> - censurava-lhe a companheira.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Um dia, em que os pensos de <i>fentanyl</i> não estavam a fazer
efeito e o meu pai já não conseguia chorar, julguei desvendar-lhe nos olhos o
segredo íntimo do sofrimento. Não eram as dores atrozes nas artroses, nem a
anca delapidada com as metástases, nem o potássio a subir-lhe ao cérebro pela
falha renal. Era a queda. O meu pai continuava a ver-me cair com cinco anos de
idade. Todos os dias eu caía do primeiro andar. Quando o visitava tinha sempre
cinco anos, e, pensando bem, acho que para o meu pai eu tive cinco anos a vida
toda. Tive cinco anos quando comecei a fumar, tive cinco anos quando deixei de estudar, tive ano sim, ano não: cinco anos de idade. Uma tarde, durante a visita, fui buscar café à máquina e quando voltei, já não tinha cinco anos; nunca mais caí desde esse dia, foi então que me
estremeceram os joelhos. </span></div>
El Matadorhttp://www.blogger.com/profile/17234767194000336960noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-565780083604927308.post-70166640782740316972012-11-23T23:40:00.000+00:002014-03-16T14:26:17.024+00:00Honk-Logia II<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Não fossem as dores de cabeça fenomenais, não fosse um dia
ela ter tentado comer a sopa com o lado errado da colher, e, se calhar ninguém
teria descoberto que a minha mãe tinha um cancro no cérebro. Como era uma
mulher de guerra, capaz de suportar as maiores sevícias com um espírito estóico
digno de envergonhar Zenão de Cítio; aguentou-se quase até ao limite sem um
queixume.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Neste caso não houve lembranças nem angústias do passado,
também não houve <i>fentanyl</i>, nem nada. O
diagnóstico foi quase coincidente com o atestado de óbito.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Uma tarde porém (estas coisas parece que acontecem sempre à
tarde) lembro-me de estar à beira da cama dela, na nossa casa, num intervalo entre-dores,
e ler-lhe nos olhos um profundo assombramento. É que ela já não me reconhecia.
Eu então devia parecer-lhe um estranho qualquer que lhe entrara pelo quarto
adentro, no meio da sesta. Já não era o filho que ela via, antes um adolescente
qualquer, polvilhado de borbulhas; penugem bastante a despontar-lhe do lábio
superior. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Neste caso não havia o sentimento de culpa, nem o remorso,
nem aquela angústia materna de continuar a ver o filho a cair do primeiro andar
(continuamente) aos cinco anos. Nem sequer havia a lembrança de vê-lo chegar
a casa com um buraco abaixo do joelho devido a outra queda do primeiro andar, nem
sequer a lembrança das rezas a São Judas, o das causas perdidas. Não havia
sequer a clássica repreensão : Porra filho, quando é que vais parar de cair de
primeiros andares. E eu não pude responder-lhe que nunca mais cairia de outro
primeiro andar enquanto não fizesse os meus vinte anos. Não lhe disse nada
porque ela continuava a olhar-me com aqueles olhos assustados de quem diz: quem
é esta gente e o que é que eu faço aqui?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Ficámos assim uma tarde inteira, nem ela se importou, nem eu
chorei. Foi então que à noite voltaram as dores de cabeça terríveis e tiveram
que vir buscá-la pela última vez. O bombeiro, que a conhecia desde miúda, esse
sim, chorou que se fartou. Acho que gostava dela.</span></div>
El Matadorhttp://www.blogger.com/profile/17234767194000336960noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-565780083604927308.post-91399476158380911212012-11-23T21:29:00.000+00:002012-11-23T21:29:55.313+00:00A Sua Forma Mais Líquida<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<i><span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">"Tudo o que é sólido se dissolve no ar" - Karl Marx</span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Compra no supermercado uma garrafa de vinho e sai a passos
lentos, arrastados. A princípio parece não saber o caminho, mas não está
desorientado, é como se estivesse perdido. Vagueia pelas ruas como se evitasse
ir para casa. A casa dum homem é a sua paz, é o sorriso de uma mulher na sua
direcção, é o silêncio que se anseia. Por isso não tinha casa. Havia uma
moradia, um apartamento até, com mobília e loiça e tudo mais, mas não era a sua
casa. A sua casa desmoronara-se de um dia para o outro, como um castelo de
areia que o mar leva. Que lugar tão comum! Os castelos de areia são feitos de
propósito para serem levados pelo mar. É o nosso desejo secreto de destruição.
A casa de um homem é o seu espírito, e ele já não o tem. Ergueu-se como Dédalo
e estatelou-se como Ícaro. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Agora vejo-o ali parado em frente da passadeira sem a
atravessar, o olhar cativo no intermitente das faixas brancas e negras. Os
condutores é que não estão para filosofias, e já vociferam caralhadas no
conforto dos seus bólides. É uma cidade agitada esta, as pessoas enervam-se
muito junto às passadeiras. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Os outros transeuntes julgam-no doente mental. Há muitos
doentes mentais nesta cidade. Agarram-no pela mão e tentam levá-lo a atravessar
a estrada, eis então que acorda do estupor e pensa que lhe querem roubar o vinho.
E nisto larga a fugir apavorado sem direcção que o valha; não tem casa mas tem
vinho, e o vinho já se sabe, é o espírito na sua forma mais líquida. </span></div>
El Matadorhttp://www.blogger.com/profile/17234767194000336960noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-565780083604927308.post-407963744637453372012-11-18T01:58:00.000+00:002012-11-18T02:17:48.092+00:00III- trilogia lapidar<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Há quem as atire
e quem as apanhe: as pedras. Eu cá gosto tanto de atirá-las como de as apanhar,
tudo depende da situação; do espaço e do tempo que um indivíduo tem para se
dedicar a tais práticas. Agora por exemplo estou disposto e aberto apanhar uma Valente.
Tenho o cérebro num túnel aberto onde se cruzam ventos a mais de 300
quilómetros horários. E é uma ventania terrível, não se consegue ouvir nada.
Alguém me pergunta algo e eu não percebo um boi, <i>o quê</i>, grito, <i>queres o quê?</i>
<i>Não te ouço camândrio!</i> Preciso de uma pedra específica para construir uma
barreira ao ruído que se me atravessa diariamente no espírito. Podem ser
tijolos também, que isto um indivíduo não vive só de pedras. Hei-de de construir
um belo muro, qual Rogério Águas, mesmo no meio do túnel que existe na minha
compreensão: e que lindo ficaria! Todo encimado com arame farpado e holofotes a
perscrutarem-me os pensamentos mais ruins, aqueles que me acordam de
manhãzinha. Sim porque eu cá durmo que nem um justo; mal me batem os costados
de encontro ao proverbial colchão ortográfico, adormeço qual querubim loiro,
encaracolado, de asinhas sorridente. O meu mal são as manhãs, pá: acordam-me
pensamentos nublados; angustiosos mesmo. Existe esta palavra, angustioso? Deve
existir, pois se não está sublinhada a vermelho. E depois fico triste como o
caraças, pá, e é então que surge a vontade de apanhar pedradas. O próprio
Cristo mandou que a primeira pedra fosse atirada por quem nunca houvesse
pecado. Por muito respeito que tenha pelo homem enquanto filósofo tenho que discordar dele. A proposição devia ter sido: que peque agora quem
nunca atirou a primeira pedra. Então sim, era ver uma arraial de pecado como
nunca antes, daquele bom, em que se aproveita a carne, a gordura que escorre,
os líquidos da natureza, os néctares mitológicos; era vê-la a rodopiar, tonta,
magnífica, bacante até nem mais. Quando há carne disponível, há que mordê-la,
arroxeá-la, penetrá-la bem fundo, com os dentes aguçados. O caminho não se faz
a pensar no que há ao fundo do túnel, caraças, o caminho é cavar o próprio
túnel, desbravá-lo até à sofreguidão, e chegar ao fim e pensar, Ah! Caraças, <i><u><span style="color: #e06666;">ganda</span></u></i> túnel que eu acabei de esburacar. A
palavra <i><u><span style="color: #e06666;">ganda</span></u></i> ficou sublinhada a
vermelho: maldito sejas acordo ortopédico.</span><br />
<span style="color: #cc0000; font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span><span style="color: #e06666; font-family: Courier New, Courier, monospace;"><a href="http://www.youtube.com/watch?v=EsZEWhj4pVg" rel="nofollow" target="_blank">elegia lapidar</a></span></div>
El Matadorhttp://www.blogger.com/profile/17234767194000336960noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-565780083604927308.post-5194424677444086982012-11-18T01:43:00.001+00:002014-03-16T14:29:58.477+00:00II - trilogia lapidar<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><i>Dá cá a mão</i>, disse-me ele,
esticando o braço para que eu o agarrasse. Estávamos no topo de uma pilha de
tijolos com a ideia de saltar para o primeiro andar de um prédio em construção.
O movimento que fiz para lhe agarrar a mão provocou o desequilíbrio necessário
na pilha para que esta se desmoronasse. Era o último da fila e caí
da altura de um primeiro andar, o meu amigo logrou agarrar-se à varanda do
prédio. Da queda não me lembro, acho que não senti nada; ao contrário dos
filmes americanos nada se passou em câmara lenta, aliás, foi tudo muito rápido.
Num momento estava lá cima, noutro estava cá em baixo. A princípio não sabia se
havia de chorar ou não, e por isso deixei-me ficar apenas espantado. O resto da
pandilha, sã e salva, riu-se a bom rir, daquele riso saudável da primeira
infância, um riso automático e inocente: alguém caiu - alguém se riu. Ainda se lembram
quando a vida era assim tão simples?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Senti que algo me empastava as calças de ganga; uma mancha escarlate (da cor do
fato do homem-aranha, o meu herói da altura) alastrava-se um pouco abaixo do joelho. Apalpei
cuidadosamente, e, no sítio manchado encontrei uma depressão que
entrava pelas calças adentro: um buraco na perna. Para bom entendedor tinha
sido esburacado por um tijolo. Aí sim, permiti-me chorar, para enorme gáudio dos meus
companheiros de macaquices urbanas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">O meu pai,
sonolento, acabado de sair do turno da noite, levou-me contrariado ao hospital.
As minhas irmãs choraram por simpatia e a minha mãe rezou a São Judas, o santo das causas
perdidas. Coseram-me e ainda hoje tenho uma cicatriz vistosa que impressiona as
miúdas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Vinte e muitos
anos depois encontrei o meu amigo num parque de estacionamento. Não me causou
impressão o facto de ele estar completamente pedrado. Mas, ainda que tenha
tentado disfarçar, houve um pequeno pormenor que me saltou à vista: faltava-lhe
a perna esquerda. <i>Foi de picar nas
virilhas</i>, explicou-me. Estiquei-lhe a mão, como que a retribuir o gesto
infantil do antigamente. Ele abriu a dele, pensando que lhe ia dar uma moeda. A
princípio fiquei espantado, depois, quando me certifiquei que ninguém estava a ver: chorei.</span></div>
El Matadorhttp://www.blogger.com/profile/17234767194000336960noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-565780083604927308.post-52632001553751640012012-11-18T01:19:00.001+00:002014-03-16T14:27:22.101+00:00I - trilogia lapidar<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">E no dia em que
o (na altura) pastor David finalmente atirou uma valente pedrada aos cornos do
mastodonte Golias; o escândalo rebentou entre a população judaica, que
entretanto estava farta de ser comida a torto e a direito, pelos filisteus: <i>Ai meu deus</i>, disseram eles, <i>mas</i> <i>que
jeites David, perquê essa violência toda, atã nã vês que a gente sômes os
escolhides de deus, a gente nã é pela violência, a gente é branda, tipo, mansa
dos costumes, tás a ver</i>? E David (futuro rei dos judeus) ao guardar a funda, envolto nas </span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 150%;">peles de carneiro que lhe eram características; incrédulo e estupefacto com tamanho espectáculo de ingratidão, pensou: </span><i style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 150%;">Que
povinho de merda! Nunca estão satisfeitos com nada</i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 150%;">. </span><i style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 150%;">Por</i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 150%;"> </span><i style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 150%;">vontade deles nem sequer
tinha havido o 25 de Abril, quanto mais o Natal</i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 150%;">.</span></div>
El Matadorhttp://www.blogger.com/profile/17234767194000336960noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-565780083604927308.post-58428932964814472172012-10-26T22:46:00.000+01:002012-10-27T01:27:55.392+01:00O Homem Que Gostava de Ir às Putas<br />
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Com as putas não havia
necessidade de mentir. De parte a parte. Nem ele mentia às putas nem
as putas lhe mentiam a ele. Estavam reunidas portanto, todas as
condições necessárias para o início de uma relação sincera e
duradoura.
</span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A princípio foi a
estranheza. A timidez perante a carne nua e despudorada, a mobília
mapeada a tons de vermelho; as luzes em néon, a música quase tribal
que lhe acompanha as batidas do coração, os espelhos sujos...
</span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Depois foi o verbo: quero
aquela! - Como quem está no talho e aponta para a vitrina: Aquele
belo naco por favor. E o pedaço de carne de pronto lhe é entregue:
embrulhado em rendas finas de negro e vermelho, perfume barato salteado de palavras gentis.</span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Ainda que o verbo inicial
seja o motor de toda a acção, posteriormente, são as exclamações
que tomam as rédeas do carburador: Oh!, Ah!, ou apenas (!!!) momentos singelos em que nada se diz e tudo se sente, à flor da
pele (lá está o Chico outra vez); tempos interjectivos e puros, roubados aos deuses e tornados sublimes pelo homem. Uma dialéctica
muscular que se resume em ir-vir e chegar.</span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"></span></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Estão aqui envolvidas
todas as ciências do mundo moderno. Primeiro a
química, depois a física; a biologia aliada à psicologia, e por
fim, como que a rematar o cortejo, ou às vezes encabeçá-lo, a
economia: mãe/produto de todas as transacções - <i>Check
please!</i></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><i><br /></i></span></div>
El Matadorhttp://www.blogger.com/profile/17234767194000336960noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-565780083604927308.post-3217321204186595072012-10-19T16:35:00.000+01:002014-03-24T10:19:30.171+00:00Apologia de Apolo<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Levanto-me da cama e digo adeus à
sobriedade. Nunca mais voltarei a escrever sob este manto frio de lucidez que me
estremece o espírito e acorda a meio da noite. Não quero! Recordar é não viver.
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Apetece-me gritar como Pã no meio
da floresta. Quero o caos. Quero correr ao lado dos cães e uivar como os porcos
em noites de lua cheia. Não às histórias de encantar: quero-as gregas!
Quero-as gregas com grandes titãs. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">O lobo mau comeu o capuchinho
vermelho e pediu para ser julgado em Portugal. Pronto, é mesmo assim: já não
histórias felizes ainda que de vez em quando se encontre uma boa fada.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Os anões voltam aborrecidos da
mina onde são explorados há décadas e, num acto de desespero, sodomizam a Branca
de Neve à vez. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Entretanto, noutra parte da floresta, aproveito que a Bela está adormecida e ponho-lhe o falo na
boca. Ela acorda feliz mas o príncipe fica com um sabor estranho na boca. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A Cinderela de tanto trabalhar já
tens os pés inchados, não há sapato que lhe sirva. Tem um ar velho e gasto. Culpa dela, digo eu, queria sapatos tivesse casado com um sapateiro. É mesmo assim.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Quero o caos criador da natureza
e de todos os deuses. Já chega de princesas de encantar, senhoras de grandes chiliques
e pequenas idiossincrasias. Venham de lá essas afrodites poderosas, ciumentas mães
de príapos gigantescos, gente real em vez de realeza e titãs, não esquecer,
grandes titãs. </span></div>
El Matadorhttp://www.blogger.com/profile/17234767194000336960noreply@blogger.com9