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A Obra

| segunda-feira, 27 de abril de 2009 | |
Ninguém sabia para que iria servir a estrutura, mas desde o início da sua montagem que dava muito que falar. A população, ao fim da tarde depois do trabalho, juntava-se em volta da construção e comentava o seu futuro uso, ou a falta dele, como eram apologistas alguns. Básicamente era uma estrutura em aço e ferro retorcido com vários patamares, muitas engrenagens e muitos rebites. Um dia, um dos trabalhadores, caiu da parte mais alta da construção e estatelou-se no chão. Muitos sacaram do telemóvel e aproveitaram para captar o momento único. Alguns comentaram com sapiência o estado do operário «aquilo são os miolos, a sairem-lhe da cabeça», como ninguém chamou uma ambulância o homem morreu ali, o que foi um escândalo. Levantou-se de imediato um troar contra a ineficácia dos serviços de socorro. Alguém apontou o dedo à construção «isto devia ser mandado abaixo, não precisamos disto para nada». Outros diziam que não, que a construção era uma obra do progresso e devia ser concluída uma vez que, como era coisa moderna, só podia trazer benefícios. O caso assim é que não podia ficar, por isso, a obra foi embargada. Hoje a obra ainda lá está, serve de abrigo para quando começa a chover, os jovens aproveitam os cantos escuros e vão para lá namorar e é lá que os velhos vendem o seu jogo ilegal. Nunca mais foi posta em causa e muito menos concluída.

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