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Como Quem Atravessa o Equador (1)

| segunda-feira, 3 de setembro de 2012 | |

Abrenuncio deitou-se na areia e, como há erros que são para repetir, deixou-se dormir ao sol.
Sonhou-se numa ilha do Pacífico, a sul do Taiti, a norte da Nova Zelândia. Um bom sítio para ser desterrado, pensou, já que temos que sair do país que seja em estilo. Como teria ali chegado? Talvez tivesse naufragado – é sempre romântico naufragar -  ou talvez o seu avião se tivesse descontrolado, perdido o controlo de um dos motores, os flaps tivessem emperrado, e ali se despenhasse.
Os indígenas rodearam-no com curiosidade. Inspecionaram-no como se de um cavalo se tratasse; abriram-lhe a boca para ver os dentes, deram-lhe pancadas no lombo, puxaram-lhe o cabelo…
Pelas tatuagens faciais  faziam lembrar os Maoris. Talvez fossem ascendentes destes; alguma tribo perdida que, interrompendo a longa travessia para sul, cansada se ficara por ali. Apresentavam todo o aspecto de serem uma daquelas tribos do Pacífico, que ouvimos falar no National Geographic e nos romances de viagem; daquelas que possuem o estranho hábito de se alimentarem, não exclusivamente, mas também de carne humana. Abrenúncio retraiu-se com a ideia.
Entre eles, havia um escanzelado, que arranhava um inglês macarrónico, não sou portanto o primeiro ocidental a chegar aqui, cogitou Abrenuncio.Trazia um crucifixo ao pescoço que partilhava a atenção com uma orelha humana que se dependurava do mesmo colar.
Quem lhes ensinou o inglês devia ser missionário e não lhes matou só a fome espiritual – concluiu.
- Dond és tu vens? – Inquiriu o Maori.
- Sou Abrenúncio, venho do Algarve.
- Nunci Al’arve – retorquiu o outro.
- Não, não – corrigiu – A-b-r-e núncio do Al-Garve. Soletrou devagar.
- N-un-ci, Al’Arve – Respondeu o outro vagarosamente.
- Al-Garve: é árabe!
- Al’Arve é Rábe.
- SÓ ALGARVE!!! – Exaltou-se  Abrenuncio.
- SÓ AL’ARVE – Gritou o escanzelado e virando-se para os outros designou Abrenúncio.
- SÓ AL’ARVE - SÓ AL’ARVE - SÓ AL’ARVE - SÓ AL’ARVE – gritaram todos em alegre euforia carregando-o sobre ombros em direcção à aldeia, não sabendo Abrenuncio se o estariam a convidar para jantar ou se estariam contentes por terem encontrado o jantar

5 comentários:

mz Says:
3 de setembro de 2012 às 12:42

Ai os sonhos a tornarem-se pesadelos!

Anónimo Says:
3 de setembro de 2012 às 12:58

estou tão contente de ter encontrado este blogue. adoro-o.

El Matador Says:
3 de setembro de 2012 às 14:15

E nós adoramos-te também, nAnonima.

Anónimo Says:
3 de setembro de 2012 às 19:18


El Matador, és um doce.
Belo post.

:)

El Matador Says:
5 de setembro de 2012 às 22:16

obrigado, desejo