Com as putas não havia
necessidade de mentir. De parte a parte. Nem ele mentia às putas nem
as putas lhe mentiam a ele. Estavam reunidas portanto, todas as
condições necessárias para o início de uma relação sincera e
duradoura.
A princípio foi a
estranheza. A timidez perante a carne nua e despudorada, a mobília
mapeada a tons de vermelho; as luzes em néon, a música quase tribal
que lhe acompanha as batidas do coração, os espelhos sujos...
Depois foi o verbo: quero
aquela! - Como quem está no talho e aponta para a vitrina: Aquele
belo naco por favor. E o pedaço de carne de pronto lhe é entregue:
embrulhado em rendas finas de negro e vermelho, perfume barato salteado de palavras gentis.
Ainda que o verbo inicial
seja o motor de toda a acção, posteriormente, são as exclamações
que tomam as rédeas do carburador: Oh!, Ah!, ou apenas (!!!) momentos singelos em que nada se diz e tudo se sente, à flor da
pele (lá está o Chico outra vez); tempos interjectivos e puros, roubados aos deuses e tornados sublimes pelo homem. Uma dialéctica
muscular que se resume em ir-vir e chegar.
Estão aqui envolvidas
todas as ciências do mundo moderno. Primeiro a
química, depois a física; a biologia aliada à psicologia, e por
fim, como que a rematar o cortejo, ou às vezes encabeçá-lo, a
economia: mãe/produto de todas as transacções - Check
please!