Na cidade pequena confunde-se a grandeza com prédios altos. Descaracterizada, a cidade cresce para cima. As pessoas pequenas da cidade pequena sobem ao topo dos prédios altos e julgam-se grandes; olham para baixo e para a frente, abarcam o horizonte com gestos largos e dizem: - tudo isto é meu!
As pessoas pequenas da cidade gostam de usar frases grandes para dizer pouca coisa; na sua avaliação constante da grandeza julgam-na intimamente ligada ao comprimento da gramática. É tudo uma questão de métrica dizem uns, ou mesmo quilométrica apressam-se a afirmar outros. O progresso na cidade pequena faz-se na periferia em abandono do centro. As pessoas pequenas têm horror ao centro onde toda a gente anda a pé. Andar a pé não é progressivo, dizem gramaticalmente quilométricas: - Como pode ser isso então? Se assim fosse Deus nunca teria criado os automóveis. Antigamente no centro, as casas eram pequenas e singelas e nisso residia toda a sua grandeza; depois vieram as pessoas pequenas e elevaram construções grandes para poderem lá do alto ver melhor as luzes da periferia. A periferia, que é onde está o progresso assemelha-se a uma feira. Para as pessoas pequenas o progresso, as luzes brilhantes e a algazarra andam de mãos dadas com progresso. Se Deus não quisesse ruído não tinha inventado as buzinas – dizem eles- e buzinam noite fora, cheios de progresso e grandeza.
Outro sinal de indefectível grandeza das pessoas pequenas, são as estradas. As estradas são a seiva que corre nas veias das pessoas da cidade pequena. É na estrada que comem bebem e convivem. É na estrada que riem e choram. O indivíduo pequeno na cidade pequena só se sente definitivamente grande quando está junto a uma estrada ou em cima dela, e, como se sentia incompleto por nunca ter estado debaixo de uma, foi alcatroado o cemitério.
As pessoas pequenas da cidade pequena, sentem-se orgulhosas da sua obra e dizem: somos uma cidade grande – somos uma grande cidade. Dizem isto porque não compreendem o conceito de relatividade.