Strange a woman who tries to save
What a man will try to drown.
And it's the rain that they predicted,It's the forecast every time.
The rose has died because you picked it
And i believe that brandy's mine.
Tom Waits – Strange Weather
O sangue escorreu involuntário pelo braço, a senhora apressou-se a limpá-lo com algodão e álcool: «Sente-se bem?» Eh! Não se sentia muito bem, havia toda a questão da falta de amor pela vida, da falta de vida com amor, e o Papa, meu Deus como o Papa podia ser deprimente. Os pupilos de Freud viam ali uma chamada de atenção, uma forma gritante de sublimar uma frustração qualquer, ele não. Ele gostava das tonturas e dos suores frios, do desfalecimento e da cosedura final. Gostava também, senão principalmente, da lâmina fria a cortar o nervo tenso. O arrepio e depois o ardor; o cheiro da carne queimada.
Andou meio estremunhado a princípio; sentia as pessoas passarem-lhe ao lado e comentarem a sua amarelidão, as olheiras cavas e o mau aspecto geral. A visão nessas alturas afunilava-se e os ouvidos pareciam encher-se de algodão, de modo que, toda a experiência se tornava gratificante. Tudo menos o aborrecimento, a ignomínia, a frivolidade. Nestes momentos não sonhava, era tudo simples e concreto e real; ainda estava por inventar droga alguma que batesse mais que um estalo da realidade.
Passados poucos dias voltava à normalidade; sentava-se amorfo em frente da televisão e exercitava somente os dedos do comando. Volta e meia aparecia o Papa, meu Deus como ele odiava o homem.
Passados poucos dias voltava à normalidade; sentava-se amorfo em frente da televisão e exercitava somente os dedos do comando. Volta e meia aparecia o Papa, meu Deus como ele odiava o homem.