"Mares convulsos, ressacas estranhas
Cruzam-te a alma de verde escuro
As ondas que te empurram
As vagas que te esmagam…"Xutos e Pontapés
Abrenuncio, por vezes, sente-se encurralado entre dois mundos. Um sentimento crescente que agora lhe dá para analisar. Do ponto de vista romanesco-literário situa-se entre Kafka e Pedro Paixão. Vive o absurdo de um no meio da extrema solidão do outro.
A angústia tem a forma de duas espirais, pensa; uma que sobre outra que desce. Abrenúncio percorre a segunda com um extremo sentimento de não compreender o rumo da sua própria vida; o como e porquê de se encontrar nesta ou naquela situação, nem como ali chegou. A ignomínia é um fardo de chumbo que carrega sobre os ombros. Assim como a incompreensão e a culpa. Mais que tudo é a vergonha que o puxa para baixo, como vagas gigantescas no mar bravo. Não é moço de remar contra a maré, nem só com um braço como se vivesse sob o signo de Camões. Sente o peso e deixa-se ir; cansado. Os olhos pedem descanso , o corpo pede repouso, a alma implora por silêncio.
No fim de contas é tudo o que precisa: silêncio. Um pouco de silêncio para dormir, um silêncio que dure dez anos.