
Entrou no labirinto decidido a trazer-lhe o coração do Minotauro numa bandeja. Ela precisava de uma prova de amor, e ele, cego, achou que aquela era a melhor forma de lhe prestar testemunho. Ao princípio o labirinto era pura adrenalina, pura paixão. Nada o demovia; encontrava o caminho barrado e num salto voltava para trás e enveredava por outra via. A voz dela e a promessa de amor eterno eram os sons que o norteavam pelos sinuosos caminhos do labirinto. Quando se sentia sozinho, cantava canções bárbaras que havia aprendido nas campanhas do sul. Ao acercar-se do cerne da terrível construção, não deu de caras com o mítico animal. Antes tropeçou numa acumulação desordenada de ossos que cedo descobriu, serem os seus antecessores. Em vez do júbilo ansiado sentiu uma dúvida ensombrar-lhe o coração. As paredes agingantaram-se em seu redor e a voz que o guiara até então, deixara de ecoar pelas paredes do caminho. Angustiado percebeu que o verdadeiro labirinto começava ali.

Labregoísio sofria em frente do aparelho de televisão. O seu problema de prisão de ventre agravara-se de tal forma nos últimos sete dias que, os médicos foram unânimes em prescrever tão violenta mézinha. Mudava de canal à mesma velocidade que as notícias perdiam o interesse. Às vezes alternava rápido entre dois canais, só para ver as discrepâncias existentes sobre um mesmo evento. Depois, começou a premir o botão do comando com fúria, e, as histórias narradas pelas histéricas criaturas da caixa que estupidificou o mundo, começaram a deixar de fazer mais sentido ainda. Viu a mulher com uma unha encravada que deu à luz a caminho do hospital; o homem que ia atravessar a estrada e foi atropelado por uma manifestação de grevistas da aviação civil; O político corrupto que fugiu para o estrangeiro com a criança desaparecida; O avião que caiu em cima do banco falido...No auge da náusea, sentiu uma pontada forte nos intestinos. «Finalmente!», pensou «é agora». Nem teve tempo de chegar à casa de banho, a explosão deu-se mesmo no meio da sala, deixando as paredes pintalgadas de um surreal



