A sala de espera estava apinhada. As pessoas estavam fartas; bocejavam, discutiam o tempo, olhavam para o tecto, penduravam-se nos candeeiros, amontoavam-se e esperavam. A busca por trabalho tem destas coisas; esperar numa sala fria, longas horas sem fazer nada, na esperança de arranjar algo para fazer.
Os lugares disponíveis eram dois, apenas dois: um p'ró menino, outro p'rà menina. Os candidatos eram trezentos: novos, velhos, com doutor sem doutor, com experiência sem experiência, de todas as cores e feitios de gravata. Encetavam conversas amistosas entre si, sabendo porém que naquela situação eram adversários. E se por um lado sorriam, esse sorriso encerrava em si a vontade que existe em todos nós de, em caso de conflito, aniquilar o próximo; especialmente quando o próximo está mesmo perto, como era o caso. De vez em quando um nome era chamado lá do fundo, como que vindo das profundezas, como se da chamada para o juízo final se tratasse. Se alguns logo arrebitavam e caminhavam ávidos para a entrevista, outros havia a quem a vontade já havia sido quebrada, ao ponto de se arrastarem para a sala de conferências com a esperança toda gasta e maltratada.
A Entidade Suprema era quem dirigia o inquérito. Escarafunchava o indivíduo de alto abaixo com a minúcia de um inquisidor. Desnudava-o de defesas, farejava-lhe as fraquezas que não tardava a encontrar; Apontava a provecta idade de alguns assim como a pueril geração de outros. Mastigava e cuspia porta fora os candidatos depois de lhes saborear o inefável molho que era o medo e a necessidade.
No fim o cansaço abatia todos e a sensação de inutilidade pesava nos pés de regresso a casa.
Os lugares, esses, eram atribuídos por artes de mágica. Alguém telefonava e, num passe rápido de prestidigitação o cargo era ocupado. Seres místicos e alados como O Sobrinho de ou O Filho de, brilhavam sempre no meio do espectáculo mesmo sem terem comparecido. Os outros, só eram chamados para encher o estádio.
Os lugares disponíveis eram dois, apenas dois: um p'ró menino, outro p'rà menina. Os candidatos eram trezentos: novos, velhos, com doutor sem doutor, com experiência sem experiência, de todas as cores e feitios de gravata. Encetavam conversas amistosas entre si, sabendo porém que naquela situação eram adversários. E se por um lado sorriam, esse sorriso encerrava em si a vontade que existe em todos nós de, em caso de conflito, aniquilar o próximo; especialmente quando o próximo está mesmo perto, como era o caso. De vez em quando um nome era chamado lá do fundo, como que vindo das profundezas, como se da chamada para o juízo final se tratasse. Se alguns logo arrebitavam e caminhavam ávidos para a entrevista, outros havia a quem a vontade já havia sido quebrada, ao ponto de se arrastarem para a sala de conferências com a esperança toda gasta e maltratada.
A Entidade Suprema era quem dirigia o inquérito. Escarafunchava o indivíduo de alto abaixo com a minúcia de um inquisidor. Desnudava-o de defesas, farejava-lhe as fraquezas que não tardava a encontrar; Apontava a provecta idade de alguns assim como a pueril geração de outros. Mastigava e cuspia porta fora os candidatos depois de lhes saborear o inefável molho que era o medo e a necessidade.
No fim o cansaço abatia todos e a sensação de inutilidade pesava nos pés de regresso a casa.
Os lugares, esses, eram atribuídos por artes de mágica. Alguém telefonava e, num passe rápido de prestidigitação o cargo era ocupado. Seres místicos e alados como O Sobrinho de ou O Filho de, brilhavam sempre no meio do espectáculo mesmo sem terem comparecido. Os outros, só eram chamados para encher o estádio.