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Como Quem Atravessa o Equador(2)

| terça-feira, 4 de setembro de 2012 | |

Passaram-se os tempos e Abrenuncio sentia-se como em casa. Integrara-se aos poucos naquela estranha comunidade e agora era o mundo ocidental que lhe parecia estranho, como um sonho distante.
No corpo ostentava já as marcas dessa integração, na forma das mais variadas e criativas tatuagens. A mais significativa era a do homem a nadar com o tubarão, em desenhos estilizados com traço curvo artístico. Para aqueles maoris o tubarão era uma espécie de animal sagrado. Contavam as lendas do seu folclore popular que os primeiros maoris, os da grande migração, tinham seguido um tubarão na sua viagem para sul. Os de agora também seguiam os tubarões, mas era quando saíam para pescar, em busca dos grandes cardumes. Estavam de tal forma habituados a conviver com os tubarões, que nadavam e pescavam no meio deles, numa espécie de baile sincronizado, sem que houvesse estranheza de parte a parte. Assim, quando convidaram Abrenúncio para uma pescaria este aceitou de imediato. Imaginou-se num pequeno barco, nas águas calmas ao largo da ilha de Faro, com a cana presa entre os joelhos a beber minis. Foi só quando lhe puseram um arpão artesanal nas mãos e se viu rodeado de tubarões é que percebeu que a pesca dos maoris não envolvia momentos relaxantes, e pior que tudo, não envolvia minis. 
A relação dos maoris com os tubarões era parecida à que os turistas têm com os golfinhos do Zoomarine. Abrenúncio é que não ia na conversa deles; a sua cultura ocidental há muito que havia sido conspurcada pelo parvalhão do Spielberg. Os maoris apontavam-lhe os tubarões como que indicando que os devia seguir, fish, fish, gritavam excitados. No fixe, no fixe, exclamava Abrenúncio mostrando-lhes o sinal internacional de receio, que era  o ficar amarelo. Até que, tiveram que o empurrar. A princípio foi o pânico. Depois foi o pânico também e a seguir continuou a ser o pânico. No entanto, aos poucos, foi-se habituando. Os maoris ensinaram-lhe a mergulhar em apneia, o que para ele foi uma revelação, uma vez que a única coisa que estava habituado a fazer em apneia era dormir.
Agora Abrenúncio já não sentia qualquer espécie de medo, e o filtro ocidental havia caído completamente por terra. Finalmente tinha descoberto o verdadeiro prazer de pescar, que era o envolvimento com a natureza, o estar por dentro, por fora e intrinsecamente ligado a ela.  E era tal a sua alegria quando se faziam ao mar que Abrenúncio não resistia a cantar: quem me ensinou a nadar, quem me ensinou a nadar, foi, foi marinheiro, foi os peixinhos do mar…Os maoris como não percebiam um boi da letra acompanhavam só a melodia nanananá, nananá, nananá, e faziam-no com prazer porque no fundo compreendiam o seu significado.

http://www.youtube.com/watch?v=UkPpBOOzRPM

2 comentários:

Anónimo Says:
4 de setembro de 2012 às 14:59

acho que me vou repetir muitas vezes por aqui... adorei ;)

El Matador Says:
4 de setembro de 2012 às 16:44

Repete-te à vontade. :)