Foi só depois de
ter batido com a cabeça pela segunda vez que me apercebi que já não sou uma pessoa
normal. Insociável desde cedo; vivo para o consolo de não comunicar com ninguém: único sobrevivente dum Apocalipse autista.
Nas viagens constantes que faço ao
passado lanço a âncora no fundo da memória. Atolo-me quase sempre na escuridão do lodo reminiscente enquanto chafurdo na ânsia de imagens felizes. As lembranças comportam-se qual areias
movediças; afundo tanto quanto me inquieto.
Agora quero
bater com a cabeça outra vez, a terceira, que oblitere para sempre a recordação
do tempo passado. Limpo e vazio viajo para as Ilhas Trobriand. Nasço ali um
homem novo, sem pecado, puro como Adão. Convivo jovial com os argonautas
do sul e nado à solta com os tubarões. Sem dor, sem memória, sem passado.