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A Minha Alegre Casinha

| sábado, 6 de outubro de 2012 | |

Uma língua desce serpenteante dos picos dos montes mamários até ao declive circular do umbigo, ou embigo, segundo o dicionário existem as duas entradas. Aqui também existem duas entradas, mas por ora debruçamos-nos apenas numa: aquela que primeiramente se situa a sul do equador. É certo que há que ultrapassar montes e vales nesta nossa aventura, mas é uma aventura prazerosa, e como dizia o camarada Cela, o caminho faz-se caminhando, ou neste caso, lambendo.
Descemos do tal umbigo, em ziguezague, como quem não sabe por onde ir, e abordamos a coxa da direita, naquele lugar côncavo mesmo antes de chegar à floresta, outrora apelidada de virgem. É todo um matagal que se tem que explorar: ou não, hoje em dia a pós-modernidade trouxe-nos o landscaping, algo que nos permite ver em pouco tempo toda a anatomia de uma paisagem palpitante. Então, fazem-nos lembrar que do lado esquerdo existe também toda uma estrutura óssea, carregada de carne e músculos e nervos, que exigem uma mesma atenção; é para lá que nos dirigimos, e pelo caminho sentimos o bafo a maresia que nos vem da fossa das marianas: um lugar profundo e misterioso, o mais profundo dos oceanos, segundo a wikipeida.
Não há tempo a perder entre a carne que estremece; lançamos-nos, qual ataque desesperado à cidade sitiada; de boca aberta, língua em riste. Os grandes lábios não oferecem resistência - a investida é digital. Há que estimular os aliados. Depois sim, subimos destemidos pelos montes cavados e sinuosos que circundam a glande daquele que é, escancarado, o Farol de Alexandria, o Monte Evereste, o Kilimanjaro dos manjares: Clítoris de seu nome, o que não pode ser pronunciado, quando se está de boca cheia pelo menos.
Depois é o que se sabe, beija-se, chupa-se, lambe-se, como não houvesse amanhã; como se não houvesse crise, nem troika, nem governo. Convulsões agigantam-se até sentirmos os rios da Babilónia a escorrerem-nos pelos cantos da boca ao mesmo tempo que calcanhares nos batem nos intervalos das costelas. É então que nos lembramos quase sempre de uma música libertadora no seu sotaque:
Não existe pecado do lado de baixo do equador, vamos fazer um pecado rasgado, suado, a todo o vapor... (Chico Buarque)

16 comentários:

Anónimo Says:
6 de outubro de 2012 às 09:30

........... não sei sequer o que escrever........ já li 3 (!) vezes. o texto é lindíssimo. lindo.

(que belo acordar)

Anónimo Says:
6 de outubro de 2012 às 09:33

vou "roubá-lo"....

beijo

Anónimo Says:
6 de outubro de 2012 às 10:20

Texto fenomenal. :)

El Matador Says:
6 de outubro de 2012 às 10:46

@nAnonima: é de facto um bom acordar :)

@Luciano: obrigado e bem vindo.

Catarina Says:
6 de outubro de 2012 às 11:07

Um texto onde não há drama.

Catsone Says:
6 de outubro de 2012 às 11:22

Man, tal e qual um bom prato à frente dos olhos, este texto deu-me água-na-boca.
Parece que temos explorado terrenos semelhantes porque reconheço alguns desses pontos de referência... estranho.

El Matador Says:
6 de outubro de 2012 às 19:14

@Catarina: drama nenhum :)

@Catsone:eheh

Anónimo Says:
7 de outubro de 2012 às 20:09

Fantástico!
Delicioso!
Soberbo!
Divinal!
Pecaminoso!

Vamos fazer um pecado?

:)

El Matador Says:
7 de outubro de 2012 às 20:16

Bora :)

Marta Says:
8 de outubro de 2012 às 02:20

Muito bom. (literalmente e literariamente)

El Matador Says:
8 de outubro de 2012 às 15:51

Pois :)

mz Says:
8 de outubro de 2012 às 22:01

Ora, ora... pelo menos alguém dá aulas sem se preocupar com Troika e com o governo ;)

Briseis Says:
10 de outubro de 2012 às 12:12

Muito viajas tu... manda lembrança...! =)

Brown Eyes Says:
15 de outubro de 2012 às 23:28

Muito bem. Beijinhos

mz Says:
17 de outubro de 2012 às 16:50

Ainda perdido nos picos dos montes mamários?
:)))

El Matador Says:
17 de outubro de 2012 às 17:29

@Mz: É mesmo.

@Briseis: ;)

@Brown Eyes: Beijinhos

@Mz: Antes tivesse. :)