Uma língua desce serpenteante dos
picos dos montes mamários até ao declive circular do umbigo, ou
embigo, segundo o dicionário existem as duas entradas. Aqui também
existem duas entradas, mas por ora debruçamos-nos apenas numa: aquela que primeiramente se situa a sul do equador. É certo que há
que ultrapassar montes e vales nesta nossa aventura, mas é uma
aventura prazerosa, e como dizia o camarada Cela, o caminho faz-se
caminhando, ou neste caso, lambendo.
Descemos do tal umbigo, em ziguezague,
como quem não sabe por onde ir, e abordamos a coxa da direita,
naquele lugar côncavo mesmo antes de chegar à floresta, outrora
apelidada de virgem. É todo um matagal que se tem que explorar: ou
não, hoje em dia a pós-modernidade trouxe-nos o landscaping,
algo que nos permite ver em pouco tempo toda a anatomia de uma
paisagem palpitante. Então, fazem-nos lembrar que do lado esquerdo
existe também toda uma estrutura óssea, carregada de carne e
músculos e nervos, que exigem uma mesma atenção; é
para lá que nos dirigimos, e pelo caminho sentimos o bafo a maresia
que nos vem da fossa das marianas: um lugar profundo e misterioso, o
mais profundo dos oceanos, segundo a wikipeida.
Não há tempo a perder entre a carne
que estremece; lançamos-nos, qual ataque desesperado à cidade
sitiada; de boca aberta, língua em riste. Os grandes lábios não
oferecem resistência - a investida é digital. Há que estimular
os aliados. Depois sim, subimos destemidos pelos montes cavados e
sinuosos que circundam a glande daquele que é, escancarado, o Farol
de Alexandria, o Monte Evereste, o Kilimanjaro dos manjares:
Clítoris de seu nome, o que não pode ser pronunciado, quando se
está de boca cheia pelo menos.
Depois é o que se sabe, beija-se,
chupa-se, lambe-se, como não houvesse amanhã; como se não houvesse
crise, nem troika, nem governo. Convulsões agigantam-se até
sentirmos os rios da Babilónia a escorrerem-nos pelos cantos da
boca ao mesmo tempo que calcanhares nos batem nos intervalos das
costelas. É então que nos lembramos quase sempre de uma música
libertadora no seu sotaque:
Não existe pecado do lado de baixo
do equador, vamos
fazer um pecado rasgado, suado, a todo o vapor... (Chico Buarque)
16 comentários:
6 de outubro de 2012 às 09:30
........... não sei sequer o que escrever........ já li 3 (!) vezes. o texto é lindíssimo. lindo.
(que belo acordar)
6 de outubro de 2012 às 09:33
vou "roubá-lo"....
beijo
6 de outubro de 2012 às 10:20
Texto fenomenal. :)
6 de outubro de 2012 às 10:46
@nAnonima: é de facto um bom acordar :)
@Luciano: obrigado e bem vindo.
6 de outubro de 2012 às 11:07
Um texto onde não há drama.
6 de outubro de 2012 às 11:22
Man, tal e qual um bom prato à frente dos olhos, este texto deu-me água-na-boca.
Parece que temos explorado terrenos semelhantes porque reconheço alguns desses pontos de referência... estranho.
6 de outubro de 2012 às 19:14
@Catarina: drama nenhum :)
@Catsone:eheh
7 de outubro de 2012 às 20:09
Fantástico!
Delicioso!
Soberbo!
Divinal!
Pecaminoso!
Vamos fazer um pecado?
:)
7 de outubro de 2012 às 20:16
Bora :)
8 de outubro de 2012 às 02:20
Muito bom. (literalmente e literariamente)
8 de outubro de 2012 às 15:51
Pois :)
8 de outubro de 2012 às 22:01
Ora, ora... pelo menos alguém dá aulas sem se preocupar com Troika e com o governo ;)
10 de outubro de 2012 às 12:12
Muito viajas tu... manda lembrança...! =)
15 de outubro de 2012 às 23:28
Muito bem. Beijinhos
17 de outubro de 2012 às 16:50
Ainda perdido nos picos dos montes mamários?
:)))
17 de outubro de 2012 às 17:29
@Mz: É mesmo.
@Briseis: ;)
@Brown Eyes: Beijinhos
@Mz: Antes tivesse. :)
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