Hermenegildo, o homem, depois de um apurado estudo sobre a sua condição socio-económica, depois de um extensivo corte nas gorduras quotidianas, de um apertar de cinto radical nos vícios, de um auto-controlo espartano na alimentação, Hermenegildo, o homem, criativo que era, sonhador de nascença, decidiu dar um passo mais à frente na corrida contra a dívida, que o senhor primeiro ministro dizia ser de todos, ainda que ele não devesse nada a ninguém.
Hermenegildo, o homem, naquela manhã de nevoeiro, tomou a decisão de poupar no oxigénio. Dali em diante não respiraria mais às terças e quintas. Dois dias por semana: um pequeno esforço para o indivíduo, mas um salto gigantesco para a Nação. Hermenegildo, o homem, seria o novo farol de Alexandria da poupança nacional e quiçá do mundo, um exemplo a seguir, uma história para se contar às criancinhas na escola primária em dias de chuva. Ali vai Hermenegildo, diriam as pessoas, o homem que deixou de respirar para ajudar o país, e aplaudiriam, e Hermenegildo, modesto que era na sua criatividade e engenho, acenaria um tanto ou quanto incomodado com a distinção.
Na manhã seguinte à manhã de nevoeiro em que tomou a decisão, era uma terça-feira e também estava nevoeiro. Hermenegildo levantou-se, tomou o café sem açucar, sentou-se na cozinha e deixou de respirar.
O sucesso foi imediato e superou todas as expectativas, um dia apenas e nunca mais Hermenegildo teve que repetir o sacrifício.
10 comentários:
7 de dezembro de 2011 às 22:36
Fantástico!
Um salto gigantesco para a Nação (?!). A Nação que jamais reconhecerá o feito heróico de Hermenegildo, mas o seu próprio feito.
7 de dezembro de 2011 às 22:38
Não dês ideias, faz favor. Já há impostos em tudo! Abusai do O2 enquanto é tempo, está mais ou menos limpo e é abundante. Há de haver um tempo em que este bem será racionado ou taxado.
7 de dezembro de 2011 às 22:47
@desejo: As nações nunca reconhecem os grandes sacrifícios de homens pequenos.
@Catsone: Não duvides que o tempo em que o ar será racionado e taxado há-de chegar, o ar puro pelo menos.
9 de dezembro de 2011 às 14:04
Muito bom, ... como sempre!
Eh eh eh! Fantástica história, e manobra moral da realidade ...
Hermenegildo deixa de dar despesa,... olha o engordar das estatísticas dos suicídios "per capita".
Um abraço do canto de cá ...
9 de dezembro de 2011 às 14:11
:) Já faltou mais.
Abraço.
12 de dezembro de 2011 às 09:37
ah pois...
e os custos pó funeral?
e porque é que ele nao cortou no nome? xD
16 de dezembro de 2011 às 10:35
Só não aplaudo a decisão por convicção, acho que devemos respirar e chatear bastante.
16 de dezembro de 2011 às 20:50
Respirar é preciso...
21 de dezembro de 2011 às 00:08
Irra!!!aí é que está uma ideia inovadora e que faria toda a diferença... e, para dar o exemplo, deveriam ser todos os nossos governantes, ministros e grandes Boys a começar a onda!
21 de dezembro de 2011 às 08:37
Esses de quem falas deviam deixar de respirar mas através do método de decapitação.
Enviar um comentário