Numa destas noites, tentava eu esquecer as vicissitudes da existência, quando conheci uma personagem
que mudou significativamente a forma como encaro a vida. Estava encostado ao bar e
senti de supetão um toque no ombro, como quem empurra:
- Tens lume, ó pá?
Virei-me e dou de caras
com uma freira portentosa, com quase dois metros de tamanho e pelo
menos oitenta quilos de peso.
- Deus te abençoe
chavalo – agradeceu-me quando lhe acendi um enorme charuto. Depois
pediu uma caneca de cerveja e um shot de whisky irlandês. Eu estava
como que incrédulo, sem saber se se tratava de uma partida de
carnaval antecipada ou se a estranha criatura tinha vindo de alguma
festa de fantasias.
- Ah! Caraças -
Abanou a parte debaixo do hábito, como se tivesse a arejar – Esta
vida de devota está a dar cabo de mim, miúdo.
- Mas a senhora é
mesmo freira? – inquiri desconfiado.
- O que é que
julgavas pá, que era um pinguim gigante? - Pediu outro shot que
emborcou de penalty e bebeu longamente da caneca. Um pequeno bigode
de espuma formou-se-lhe no lábio superior sem que ela o limpasse ou
parecesse sequer importar-se. Puxou de uma longa fumaça do cubano e
virou-se novamente para mim.
- E tu pá, que é que
fazes por aqui? Ganda seca este bar, hã? Pareces aborrecido, 'tás
sozinho? Vem comigo, vamos a um bar de strip.
Embarquei naquela viagem
com a curiosidade de alguém que quer ver como tudo vai acabar.
No intervalo de tempo em
que paguei ao taxista, a freira entrou disparada pelo estabelecimento adentro
e ainda a ouvi a gritar para o porteiro «sai da frente parvalhão!».
Quando me sentei ao seu lado já ela estava a meter notas nas
cuequinhas de uma das dançarinas. Pedi um whisky. Ela continuou nas
canecas com shots da Irlanda. Espetou mais uma nota de dez na nádega
de uma stripper que se agachava, arrotou, e, sem que eu
lhe perguntasse nada encetou um desabafo:
- Pois é, pá, se eu
não fosse freira, era lésbica. Estou farto desta história de ser
noiva de deus – arejou novamente o hábito – Estamos para ali fechadas a maior parte do tempo: irmãs para a esquerda, irmãs para
a direita, sempre a louvar o senhor, sempre a louvar o
senhor...Estou farta de louvá-lo, pá! - bebeu o shot e pediu outro
– Uma mulher tem necessidades, percebes?
- Compreendo
perfeitamente - Anuí.
Fez sinal com
um maço de notas a uma das raparigas que por ali cirandava, e pouco
depois esta obsequiava-me com uma sensual e não menos complicada lap
dance. E entre um mamilo que me fustigava o globo ocular e uma nádega que desafiava as leis do fecho éclair, prossegui a ouvir-lhe o desafogo:
- Antigamente
é que era pá, com os deuses gregos e mais não sei o quê; volta
e meia vinham cá a baixo e tungas: siga fazer filhos às mortais. E
assim é que tinha que ser, pá. De onde é que pensas que saíram
os grandes heróis, hã? Do fornicanço divino, camandrio! Hoje em
dia, onde é que tu encontras um Hércules, um Aquiles, um Heitor?
Em parte nenhuma, pá, é por isso que esta merda está como está. É só
louvar, só louvar...É um desperdício de vagina, é o que te digo.
Bebemos
cerveja avonde juntamente com shots de whisky, de vodka e de
tequilla, e foi só quando já havia sal nas mamas de uma stripper
e rodelas de limão na tanga de outra que os bouncers
nos convidaram a sair.
A
freira, levada ao velho estilo de saco de batatas não se
conformava:
- Malditos sejam, fazerem isto a uma mulher de deus! A todos vos esconjuro
meus grandes filhos de puta, abrenuntio maledictis cabrões
da merda.
Lá
fora partilhámos um cigarro. Quando chegou o táxi, a irmã, muito comovida, em grande parte devido
à bebedeira, abraçou-me com tal força que desconfio ter-me partido
uma costela:
-
És um gajo porreiro, pázinho - a emoção a brotar-lhe
dos olhos - Se eu não fosse freira era lésbica e se não fosse
lésbica era contigo que eu me casava, não fosses tu tão feio.
8 comentários:
8 de setembro de 2012 às 08:41
:) :) :)
um desperdício de vagina...
8 de setembro de 2012 às 13:30
ahahahahah! Um final em pleno!
Adorável, este post.
:)
9 de setembro de 2012 às 15:17
Nem o álcool o embelezou perante a "moça"? Deve ser mesmo feio.
E raio do Abrenúncio virou santo também? Ou será encarnação do demo?
10 de setembro de 2012 às 20:07
Obrigado N e desejo.
Catsone: o Abrenúncio também se foi, mais uma baixa entre as fileiras da parvoíce.
10 de setembro de 2012 às 21:46
Gosto mesmo de histórias românticas :)))
14 de setembro de 2012 às 11:12
hum...demasiados "ses"... acho que não vale a pena esperares, que dali não levas nada...
22 de setembro de 2012 às 21:06
Adoro.
25 de setembro de 2012 às 11:28
Adoro o cómico
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