Era aquela terra que o
enfeitiçava. Uma terra magnífica e generosa. A felicidade não
podia ser mais que aquilo, estar junto da terra, em perfeita
contemplação, em harmoniosa comunhão. Os maoris retiravam tudo da
terra e à terra tudo retribuíam. Daí o seu ar jovial e saudável,
despreocupado e contente, aventureiro e brincalhão...feliz.
Já não saio daqui –
Declarou Abrenuncio para uma plateia invisível. Estendeu o corpo
tatuado na areia fina da praia e embalado pelo rebentar das ondas,
aconchegado na brisa fresca que soprava do mar, adormeceu. Sonhou-se
no norte, no longínquo Algarve, nas atormentadas areias duma praia
sobrelotada. Uma multidão rodeava-o apreensiva. Houve quem tentasse
hidratá-lo, houve quem tentasse reanimação cardiopulmonar, mas
nada o trazia ao de cima. Quando os moços do INEM chegaram a única
coisa que fizeram foi declarar o óbito.
Acordou com Zubaida a
acariciar-lhe o cabelo.
- Só Al'Arve!
Exclamou ela contente por o ver acordar.
- Sim Zubaida, a partir de
agora sou Só Al'Arve.
Só Al'Arve levou Zubaida pela mão até ao mar: o elemento favorito nas suas
brincadeiras conjugais; o céu apresentava uma cor diferente, de tons
arroxeados; uma massa de calor desprendia-se da terra como se esta suspirasse. Zubaida viu algo que a assustou e apontou para o céu.
- Oh! Não te preocupes - sossegou-a Só Al'Arve - é só um anão voador.
FIM
2 comentários:
6 de setembro de 2012 às 11:47
de certa forma, o teu texto fez me lembrar Fiódor Dostoiévski e O Sonho dum Homem Ridículo...
adorei. adoro. mesmo, mesmo. continua a excelente escrita :)
6 de setembro de 2012 às 11:53
Obrigado N.
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