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Como Quem Atravessa o Equador (4)

| quinta-feira, 6 de setembro de 2012 | |

Era aquela terra que o enfeitiçava. Uma terra magnífica e generosa. A felicidade não podia ser mais que aquilo, estar junto da terra, em perfeita contemplação, em harmoniosa comunhão. Os maoris retiravam tudo da terra e à terra tudo retribuíam. Daí o seu ar jovial e saudável, despreocupado e contente, aventureiro e brincalhão...feliz.
Já não saio daqui – Declarou Abrenuncio para uma plateia invisível. Estendeu o corpo tatuado na areia fina da praia e embalado pelo rebentar das ondas, aconchegado na brisa fresca que soprava do mar, adormeceu. Sonhou-se no norte, no longínquo Algarve, nas atormentadas areias duma praia sobrelotada. Uma multidão rodeava-o apreensiva. Houve quem tentasse hidratá-lo, houve quem tentasse reanimação cardiopulmonar, mas nada o trazia ao de cima. Quando os moços do INEM chegaram a única coisa que fizeram foi declarar o óbito.
Acordou com Zubaida a acariciar-lhe o cabelo. 
- Só Al'Arve! Exclamou ela contente por o ver acordar. 
- Sim Zubaida, a partir de agora sou Só Al'Arve.
Só Al'Arve levou Zubaida pela mão até ao mar: o elemento favorito nas suas brincadeiras conjugais; o céu apresentava uma cor diferente, de tons arroxeados; uma massa de calor desprendia-se da terra como se esta suspirasse. Zubaida viu algo que a assustou e apontou para o céu. 
- Oh! Não te preocupes - sossegou-a Só Al'Arve - é só um anão voador.


FIM

2 comentários:

Anónimo Says:
6 de setembro de 2012 às 11:47

de certa forma, o teu texto fez me lembrar Fiódor Dostoiévski e O Sonho dum Homem Ridículo...

adorei. adoro. mesmo, mesmo. continua a excelente escrita :)

El Matador Says:
6 de setembro de 2012 às 11:53

Obrigado N.