Um dia foram apanhar pérolas. As
pérolas dos mares do sul eram bastante conhecidas do mundo ocidental e o seu
valor como joia altamente apreciado. Mas os maoris não as apanhavam com
intenção de se tornarem mais ricos ou sequer de se adornarem com elas.
Para os maoris, riqueza era o
azul do mar tocar-se com o azul do céu na linha do horizonte; era o calor da
terra, a água que caía das nuvens e a amizade dos tubarões. Adornos, gostavam
de usar a ocasional orelha de missionário pendurada ao pescoço, e, mesmo esses
haviam caído em desuso com a perda progressiva dos hábitos antropófagos. Hoje
já não comiam ninguém; verbalizavam apenas essa vontade, num ritual sereno,
como forma de respeito pela pessoa que admiravam, um pouco à semelhança do
mundo civilizado onde aos domingos se simula comer um deus e beber-lhe o
sangue.
Para eles as pérolas eram mais
uma forma de divertimento. Usavam-nas numa espécie de jogo muito parecido ao do berlinde, o que encantou Abrenuncio. Cedo se tornou num respeitado jogador de pérolas.
E ainda que não soubesse as regras porque parecia não as haver, imitava os
outros jogadores que iam atirando as pérolas umas contras as outras e corriam
atrás delas e tentavam fazer com que as do adversário ficassem longe da atenção
de todos. Era mais um acto de espectáculo do que uma competição em si.
Abrenúncio destacou-se quando introduziu no mundo maori o bute de sacada, algo
nunca visto naquelas latitudes. Os maoris primeiro quedaram-se mudos de
estupefacção, depois em crescendo desataram a soltar vivas à maneira deles: SÓ AL'ARVE!, SÓ AL'ARVE!, SÓ AL'ARVE!, SÓ AL'ARVE!,
A população feminina também
assistia aos jogos. Toda aquela algazarra servia como forma dos homens se exibirem e darem nas
vistas. E Abrenúncio dera muito nas vistas com aquela jogada. Entre as maoris
havia uma que Abrenúncio já trazia debaixo de olho havia algum tempo: era a
irmã do escanzelado. Uma moça bonita, de olhar límpido e sorriso desarmante. Abrenuncio, como não conseguia
pronunciar-lhe o nome correctamente chamava-lhe Zubaida.
E foi Zubaida que, de entre a
multidão, se aproximou de Abrenuncio e declarou com alguma seriedade:
- Quero-te comer!
- Eu também te quero comer –
retorquiu Abrenúncio todo contente.
9 comentários:
5 de setembro de 2012 às 12:22
Cuidado Abrenúncio!!!! :)
Muito bom, estou a deliciar-me com o teu blogue, mesmo. Obrigada.
5 de setembro de 2012 às 14:32
de nada :)
5 de setembro de 2012 às 22:06
Killer, e ela vai o comer cozido ou gratinado no forno?
5 de setembro de 2012 às 22:11
eheh
5 de setembro de 2012 às 22:13
Demais! Demais! Demais!
És excelente.
:)
5 de setembro de 2012 às 22:17
obrigado, desejo, és muito simpática.
6 de setembro de 2012 às 10:28
Ó pá! Tu és bom!
6 de setembro de 2012 às 11:41
são os teus olhos, Maria.
6 de setembro de 2012 às 12:20
no way... eu até já uso óculos para ler :)
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