Foi só depois de
ter batido com a cabeça pela segunda vez que me apercebi que já não sou uma pessoa
normal. Insociável desde cedo; vivo para o consolo de não comunicar com ninguém: único sobrevivente dum Apocalipse autista.
Nas viagens constantes que faço ao
passado lanço a âncora no fundo da memória. Atolo-me quase sempre na escuridão do lodo reminiscente enquanto chafurdo na ânsia de imagens felizes. As lembranças comportam-se qual areias
movediças; afundo tanto quanto me inquieto.
Agora quero
bater com a cabeça outra vez, a terceira, que oblitere para sempre a recordação
do tempo passado. Limpo e vazio viajo para as Ilhas Trobriand. Nasço ali um
homem novo, sem pecado, puro como Adão. Convivo jovial com os argonautas
do sul e nado à solta com os tubarões. Sem dor, sem memória, sem passado.
5 comentários:
18 de fevereiro de 2013 às 21:53
adoro (Te)
18 de fevereiro de 2013 às 22:11
Três vezes a bater com a cabeça chegarão para o total esquecimento e para uma redentora renovação? É que já devo ter batido com a cabeça mais vezes do que isso e não consegui eliminar a dor.
19 de fevereiro de 2013 às 19:29
Então temos um homem novo.
Bem vindo!
Cá para nós, esses tubarões vão comer-te a parra, cuidado!
27 de fevereiro de 2013 às 12:22
E de que servirá começar um homem novo, se ele irá acabar fatalmente por fazer os mesmos disparates?
27 de fevereiro de 2013 às 17:21
não percebes nada disto :)
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