Quando se põe este
levante, há um vetusto sentimento que se apossa de mim. Algo que vem
de longe, de uma outra época, algo tão distante quanto o sangue
árabe que nestas alturas me parece efervescer. É então que surgem
as ideias esquisitas e só me apetece vestir um colete armadilhado e
ir explodir para a praia. É uma coisa linda de se ver, a explosão:
a separação brutal das células, a carne que se estica até sair
estilhaçada do corpo; há pedaços de mim espalhados sem tino por
todo lado. Ali a boiar nas ondas é uma gaivota que me debica; mais à
frente nos meio das pedras é um caranguejo que me carrega. Há
pedaços de mim no meio da estrada a serem espezinhados pelos
turistas; um verdadeiro festival de sangue, tripas e carne dilacerada. O escândalo sucedeu-se quando um bom bocado de mim acertou em cheio na boca de uma virgem, que se bronzeava às
escondidas entre as dunas, partindo-lhe um incisivo. A princípio
ninguém quis acreditar pois parecia mesmo impossível: virgens no
meio das dunas.
É como um vento que sopra dali para aqui
Publicada por
El Matador
| quarta-feira, 25 de julho de 2012 |
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5 comentários:
26 de julho de 2012 às 11:30
Daí para aqui, a explosão do corpo e da mente.
O homem é um ser estranho.
"Virgens no meios da dunas" somos todos quando queremos esconder-nos dos olhares (in)discretos.
Dunas, adoro dunas...
:)
26 de julho de 2012 às 15:09
E elas adoram-te também ;)
27 de julho de 2012 às 16:51
Que bela imagem plantaste nas nossas mentes. Pelo menos por cá seria algo de novo, não se vêem muitos por aí a explodir, embora todos desejássemos que alguns fizessem a caridade de se juntar a essa tua causa... a assembleia ficava bem pintada de encarnado...
27 de julho de 2012 às 16:57
Acho que se eles explodissem na assembleia a cor dominante seria o castanho.
27 de julho de 2012 às 23:11
Acabo de escrever sobre a maravilha que é "sentir tudo de todas as maneiras" e depois deparo-me contigo pendurado no bico de uma gaivota, na tenaz de um caranguejo e por aí adiante...até me emocionei... =)
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