- Há dias em que só me apetece começar a beber de manhã e só parar dois anos depois.
- Porquê dois anos?
- Não sei, pareceu-me adequado.
- Se tivesses dito três, podias depois justificar-te dizendo que três foi a conta
que deus fez.
- É uma sede existencial que me assola mal abro os olhos. Parece que acordo com o sabor do esquecimento a escorrer-me p'las goelas abaixo, é uma sensação tão forte que quase consigo tocar-lhe, sabes?
- Não sei mas imagino. Tive um tio que às vezes acordava assim, a última vez que isso lhe deu, saiu de casa para beber um copo 3 e desapareceu ao fundo da tasca.
- Desapareceu?
- É verdade. Sentou-se ao fundo da tasca a beber e foi desaparecendo, desaparecendo, sem ninguém dar por isso, e quando finalmente alguém deu pela sua falta já ele não estava lá.
- Às vezes também me sinto assim, sabes, como se fosse invisível, como se não produzisse sombra, como se fosse um espectro.
- Se calhar estás morto.
- Acho que não. Mas sinto a falta de qualquer coisa.
- Do tal copo?...
- Não, mais forte que isso...
- Posso dar-te com um banco na cabeça.
- Sinto que estou a deixar escapar qualquer coisa, por entre os dedos, como se fosse areia fina, e quando tenho esta sensação só me apetece fazer disparates.
- Sei o que é isso. Tive um primo que também tinha essas sensações. Um dia resolveu jogar roleta russa sozinho, mas como não sabia as regras do jogo, carregou a arma por completo e perdeu logo à primeira jogada.
- Ui!
- Pois, foi o que ele disse.
9 comentários:
20 de março de 2012 às 21:51
Ui...que família!
20 de março de 2012 às 22:00
Há dias em que a apetece tudo.
Procuram-se alternativas porque jogar a roleta russa pode ficar "caro demais", como ficou.
Matas-me com a tua roleta.
:) desejo
20 de março de 2012 às 22:28
@Luísa: uma família portuguesa.
@Desejo: Há dias assim:)
21 de março de 2012 às 10:27
Há dias que vamos desaparecendo devagarinho, e vamos culpando quem não dá pela nossa falta, quando nem nós damos por ela...
:P
Beijo
21 de março de 2012 às 16:20
...hum... se eu fosse desaparecendo na inércia e no esquecimento e só se lembrassem de mim depois de eu ter desaparecido por completo, ai eu havia de atormentar mortalmente os sacanas e morder-lhes os calcanhares durante o sono e martelar-lhes a cabeça durante o dia!!! Não se admite esse desaforo!
21 de março de 2012 às 16:26
Isso és tu que és uma Leoa.
21 de março de 2012 às 17:58
A mim essa dos dois anos, leva-me sempre para as escadas que gosto de saltar de dois em dois degraus... agora imagina-te muito bem bebido a saltar de dois em dois... é quase uma roleta russa do torpeção!
21 de março de 2012 às 18:25
o desafio é chegar ao fim com os dentes todos. :)
22 de março de 2012 às 17:45
Lol.
Pelo menos ainda conseguiu dizer qq coisa antes da bala lhe passar pela cabeça.
Enviar um comentário