Labregoísio era um indivíduo que só compreendia o que via com os olhos, ou o que conseguia visualizar na cabeça. Só compreendia imagens, portanto. E por isso era pouco dado à poesia e às artes abstractas e à matemática, que diga-se, fora o seu terror na juventude. Quando na escola lhe pediam para descobrir X, Labregoísio, em modo de piloto automático imaginava-se logo um detective de gabardine e cachimbo na boca, qual Sherlock Holmes, à procura do tal X. Quem será este X e porque andará toda a gente à procura dele? - imaginava Labregoísio. E a partir daí, via a incessante demanda de um homem solitário em busca de um ser cruzado, que quase sempre era alvo de operações obscuras para ser encontrado. Abstraía-se muito mas nunca conseguia abstraccionar-se.
Para ele, o amor era um coração sangrento atravessado por uma seta. E quando lhe falavam da dor, dessa dor que não é física, que não se vê, daquela que sofrem os apaixonados e os lunáticos, ele à falta de melhor ia buscar a imagem do coração e da seta; e foi assim que deduziu sozinho que paixão era sinónimo de sofrimento.
Era um homem simples e não se importava de todo quando lhe gritavam: queres que te faça um desenho? Pelo contrário, mostrava-se agradecido e encantado com a gentileza de quem se dispunha a ajudá-lo.
O que não via não lhe afectava, por isso era um homem feliz; e foi assim que deduziu sozinho que o que os olhos não vêem, o coração não sente.
Também nunca chegou a encontrar o tal X.
10 comentários:
5 de novembro de 2011 às 22:16
O problema é que longe da vista, longe do coração :))
5 de novembro de 2011 às 22:24
Também é verdade, sim senhora. :)
5 de novembro de 2011 às 22:51
Não encontrou o tal x, vivia, certamente mais feliz que todos os outros comuns mortais.
:)
6 de novembro de 2011 às 11:36
Grande porra... Eu a pensar que, no comentário, bastava atirar com um "o que os olhos não vêem, o coração não sente" e estava arrumado... Afinal, lá vem o famoso adágio na penúltima frase... =)
Mas tenho pena do pobre Labregoísio...Não deve ser fácil andar por aí, completamente incapaz de ver o X que todos buscam tão avidamente.
6 de novembro de 2011 às 13:46
@Desejo: certo.
@Briseis:eheh
6 de novembro de 2011 às 16:29
Sempre pensei que no fim encontrasse o famoso "X", de qualquer forma ninguém necessita do "X" para ser feliz.
Se virmos o essencial somos felizes na mesma! :)
Bom domingo.
6 de novembro de 2011 às 17:37
Exacto.
Bom domingo
9 de novembro de 2011 às 22:35
Pois, verdade. Mas olha que se sente muita coisa que não se vê. Infelizmente sinto quando algo vai correr mal e não estou a ver. Há que tenha premonições.
16 de novembro de 2011 às 17:18
Não tinha grande capacidade de abstracção, mas era muito esperto...
18 de novembro de 2011 às 23:56
Oh... atão ele nã via que o X era o alvo?
:)
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