Na cidade pequena confunde-se a grandeza com prédios altos. Descaracterizada, a cidade cresce para cima. As pessoas pequenas da cidade pequena sobem ao topo dos prédios altos e julgam-se grandes; olham para baixo e para a frente, abarcam o horizonte com gestos largos e dizem: - tudo isto é meu!
As pessoas pequenas da cidade gostam de usar frases grandes para dizer pouca coisa; na sua avaliação constante da grandeza julgam-na intimamente ligada ao comprimento da gramática. É tudo uma questão de métrica dizem uns, ou mesmo quilométrica apressam-se a afirmar outros. O progresso na cidade pequena faz-se na periferia em abandono do centro. As pessoas pequenas têm horror ao centro onde toda a gente anda a pé. Andar a pé não é progressivo, dizem gramaticalmente quilométricas: - Como pode ser isso então? Se assim fosse Deus nunca teria criado os automóveis. Antigamente no centro, as casas eram pequenas e singelas e nisso residia toda a sua grandeza; depois vieram as pessoas pequenas e elevaram construções grandes para poderem lá do alto ver melhor as luzes da periferia. A periferia, que é onde está o progresso assemelha-se a uma feira. Para as pessoas pequenas o progresso, as luzes brilhantes e a algazarra andam de mãos dadas com progresso. Se Deus não quisesse ruído não tinha inventado as buzinas – dizem eles- e buzinam noite fora, cheios de progresso e grandeza.
Outro sinal de indefectível grandeza das pessoas pequenas, são as estradas. As estradas são a seiva que corre nas veias das pessoas da cidade pequena. É na estrada que comem bebem e convivem. É na estrada que riem e choram. O indivíduo pequeno na cidade pequena só se sente definitivamente grande quando está junto a uma estrada ou em cima dela, e, como se sentia incompleto por nunca ter estado debaixo de uma, foi alcatroado o cemitério.
As pessoas pequenas da cidade pequena, sentem-se orgulhosas da sua obra e dizem: somos uma cidade grande – somos uma grande cidade. Dizem isto porque não compreendem o conceito de relatividade.
14 comentários:
21 de setembro de 2011 às 19:13
Eu moro numa cidade pequena... cheia de gente pequena... que saudades de quando era uma vila pequena, com algumas pessoas grandes... era uma grande vila! Hoje, é grande a pequenez da cidade... gostei daquela de alcatroar o cemitério :) Enfim... :) beijo
21 de setembro de 2011 às 19:40
:) Exacto, é mesmo grande a pequenez.
21 de setembro de 2011 às 20:03
" Antigamente no centro, as casas eram pequenas e singelas e nisso residia toda a sua grandeza; depois vieram as pessoas pequenas e elevaram construções grandes para poderem lá do alto ver melhor as luzes da periferia."
Lembro-me que na rua principal da minha cidade, as casas eram pequenas, quando eu era pequena.Depois, vieram as casas altas construídas por gente baixa.
Agora, metade da rua principal da minha cidade tem casas antigas e bonitas e a outra metade tem casas altas feias e velhas.
:)
21 de setembro de 2011 às 20:49
:) Típico.
21 de setembro de 2011 às 22:40
Faz parte da nossa natureza buscar maiores altitudes... disfarçar a pequenez com cunhas e tacões mal camuflados, aspirar a uma ascensão vertical sem olhar ou cuidar do que poderá ficar na penumbra... Faz parte. Quem tem a capacidade de permanecer pequeno, eleva-se. Já dizia o JC: para entrar no Reino dos Céus, temos que nos fazer crianças. =)
21 de setembro de 2011 às 23:06
Amen
22 de setembro de 2011 às 13:01
Eu sinto a minha cidade a ficar cada vez mais pequena e cheia de pessoas pequenas...e o verdadeiro progesso, não o vejo.
22 de setembro de 2011 às 13:21
É um mal geral.
3 de outubro de 2011 às 22:44
tanta verdade que até me enervei com esta histórias das cidades e da mania das grandezas
3 de outubro de 2011 às 22:52
Por vezes torna-se enervante, é verdade.
5 de outubro de 2011 às 15:47
agora fiquei confuso. talvez seja desta minha mente pequena não conseguir compreender algo tão grande. mas isto são tudo altos e baixos de uma sociedade mediana.
5 de outubro de 2011 às 16:12
São só os baixos.
13 de outubro de 2011 às 00:12
As pessoas pequenas depois de tanto querer coisas grandes e altas esquecem-se que podem não ter força para as suportar e depois, os outros que sempre quiseram as coisas à sua medida, sufocam com a ambição desmesurada desses homens pequenos.
13 de outubro de 2011 às 16:11
ah, só dos baixos... 'tá certo ;)
saudações otárias
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