Quando o processo chegou às mãos do Juiz, já muito se tinha falado sobre o caso. Os documentos em si eram um tanto obscuros, e, já haviam sofrido variadíssimos golpes na sua integridade processual. Agora a decisão cabia ao magistrado. A fina areia da ampulheta escorria os minutos finais para o veredicto. Um senhor vestido à laia de carrasco segurava um machado de lâmina dupla, que descia a cada minuto de indecisão, sobre a cabeça do Juíz. Do lado esquerdo, um advogado magricela com tosse de tísico gritava, com os pulmões que lhe restavam:«Justiça Meretíssimo! Justiça!». Do lado direito só a displicência se manifestava: uns arranjavam as unhas, outros fumavam charuto, outros liam o jornal e nenhum deles parecia estar a prestar muita atenção ao que se estava a passar. A lâmina respirava cada vez mais perto do pescoço do Juíz e este suava em bica tentando não acusar a pressão. Dum lado pesava a vida das pessoas que, por serem tantas, eram apenas uma estatística; do outro, a Máquina que segurava o machado sobre a sua própria cabeça. A sua integridade estava em confronto directo com o seu instinto de auto-preservação; um passo em falso, um deslize, uma vírgula a mais e zás...
Nunca ele sentira tanto “a angústia do guarda-redes antes do pénalti”.
5 comentários:
18 de junho de 2009 às 12:01
Podes crer. Muito "fassbindesco", este texto.
18 de junho de 2009 às 17:26
Com musica da Laurie Anderson.
18 de junho de 2009 às 19:19
Oh oh, superman...
18 de junho de 2009 às 20:33
Angústia ...
Olha que era muito bom que acompanhasses estes momentos com música à altura!
Bom texto!
18 de junho de 2009 às 22:55
Rose - era mesmo essa a música.
FacAfiada- Por acaso já me lembrei disso, mas há textos que têm mais que uma banda sonora.
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