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O Incêndio

| terça-feira, 9 de junho de 2009 | |
Chegou a casa e não havia luz. Tinham-na cortado por falta de pagamento; as facturas amontoavam-se algures debaixo da cama, junto com as da água que provavelmente também já tinham cortado: foi ver. Correcto, a água também já se tinha ido. Entretanto via-se parado à entrada, encostado à porta, de cigarro apagado na boca a pensar:«há dias maus e dias cabrões, e há cabrões que nem Dias são...é o meu caso». Naquela casa onde antes havia atingido a plena felicidade, encontrava agora apenas um beco escuro, carregado de fel e angústia. Ainda restavam as sombras, que se tinham colado à parede como papel autocolante, sombras que ele não conseguia nem queria encarar, sombras que o faziam rever e re-analisar todo o processo vezes sem conta, e, chegar sempre à mesma conclusão: o culpado era ele.
Foi buscar gasolina ao carro (outro que já não servia para nada) e regou a casa como se duma flôr se tratasse, depois saiu para a rua, acendeu o cigarro e acendeu a casa.
Os bombeiros foram rápidos a chegar mas já não havia grande coisa a salvar. Ele, afastou-se em passo calmo e numa última despedida olhou para trás. A rua estava toda iluminada: «Que pena não ser Natal!» pensou.

1 comentários:

Abrenuncio Says:
12 de junho de 2009 às 19:06

Ehehe, agora já posso deixar comentários em todo lado. Hummmm! este texto, de prosa fácil, mostra um tamanho desprezo do autor pelo património edificado, assim como uma enorme tendência pirómana. Um caso que deveria ser seguido de perto pelas autoridades competentes.