Gostava de ir reflectir para o alto do monte sobranceiro à Cidade. Levava o computador, o leitor de música e ali ficava horas, a olhar de cima para a Cidade e seus habitantes. A metáfora das formigas à distância estava muito usada mas era assim que ele via os seus conterrâneos – como formigas. Era certo que um cálculo mal feito da sua parte, um desvio das contas e o desastre seria certeiro. Muitas daquelas formigas obreiras desapareceriam num instante. A tentação de brincar a Deus era tremenda, o bem e o mal à distância de um clique, mas ele sempre reprimira esses impulsos em função do seu ofício. Além disso não tinha tempo para pensar nessas coisas desde que o preço dos diamantes caíra a pique. Ligava a música do Nusrat e o seu espírto concentrava-se unicamente nos habitantes da Cidade. Às vezes acompanhava o paquistanês nas suas melodias, mas era só porque ninguém o estava a ver. «Um dia destes», pensava ele «ainda hei-de saber o que este homem diz nas canções».
Quando descia do monte, voltava a ser um homem sério, circunspecto, pouco dado a cantilenas.
6 comentários:
26 de junho de 2009 às 21:45
Saber o que um paquistanes diz nas músicas que canta ou tenta cantar é de facto uma coisa importante, digno de um qualquer deus!
26 de junho de 2009 às 22:13
Isso é sarcasmo FacaAfiada?
26 de junho de 2009 às 22:15
A pequena se calhar não conhece Nusrat Fateh Ali Khan. Tens que lhe mostrar.
27 de junho de 2009 às 00:32
El Matador,
Parece-te Sarcasmo?? Nãaaaaa eu acredito que até os paquistaneses podem querer saber contar qualquer coisa, ou isso ou hipnotizar cobras!
Roserouge,
Pois que não conheço, pois que vou continuar sem conhecer!
27 de junho de 2009 às 02:32
A civilização moderna é um insano formigueiro à escala global. :)
27 de junho de 2009 às 02:58
Maldonado,
É exactamente isso.
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