- ...Então ele disse-me que ia passar o ano ao estrangeiro.
- A sério?
- Sim.
- Ena!
- Também gostavas de ir?
- Muito.
- Para onde?
- Não sei... O estrangeiro é tão grande.
em busca do unicórnio cor-de-rosa invisível
O poeta é um fingidorfinge tão completamente,que chega a fingir que é dora dor que deveras sente.
Fernando Pessoa



“...mas sobretudo a cidadeEla olhava para o relógio e batia o pé nervosa. Já era tarde; quase pôr-do-sol e ele nada, atrasado como sempre. Tinham acertado os relógios um pelo outro para nunca se desencontrarem, e agora ali estava ela à hora marcada, à espera, sempre à espera de continuar a sua vida com ele. Acendeu um cigarro com a beata de outro e bateu o pé. Pôs a mão na anca, tirou a mão da anca, soprou, bateu o pé.
é um som
toca uma música boa
p’ra que eu me esqueça da alma ausente
que se perdeu pelas ruas
que eu não me perca também.”
Fausto Bordalo Dias
Soara a sirene em Zebulon 5. Era o aviso de que uma tempestade solar se avizinhava. Havia tempo suficiente para os habitantes da colónia acabarem os seus afazeres e se deslocarem-se para casa em segurança, sem pânicos. Anacleto – O Palhaço, arrumou os malabares, as bisnagas de água, os balões coloridos mas manteve o nariz vermelho. Era a sua imagem de marca; sem ele as pessoas não o reconheciam, e, mesmo em tempos de crise e tempestades solares, o marketing era uma mais valia no mercado circense. Apanhou o Subcolon, que era o comboio subterrâneo das colónias que tinha nome de clister. Toda a gente o reconheceu: «Olha! É o palhaço Anacleto» gritaram uns «Ah! Ganda palhaço» sustentaram outros, e mesmo ali exigiram que fizesse um sketch – só para passar o tempo e animar a malta. Como não tinha nada preparado improvisou a velha pantomima do funcionário público, que enfia uma sonda rectal p'lo cu do utente acima, só para lhe avaliar o produto interno bruto. Foi um sucesso como sempre. Toda a gente aplaudiu: «Palhaço Anacleto, és o maior!» gritavam e davam-lhe palmadas fortes nas costas.