
Entrou no labirinto decidido a trazer-lhe o coração do Minotauro numa bandeja. Ela precisava de uma prova de amor, e ele, cego, achou que aquela era a melhor forma de lhe prestar testemunho. Ao princípio o labirinto era pura adrenalina, pura paixão. Nada o demovia; encontrava o caminho barrado e num salto voltava para trás e enveredava por outra via. A voz dela e a promessa de amor eterno eram os sons que o norteavam pelos sinuosos caminhos do labirinto. Quando se sentia sozinho, cantava canções bárbaras que havia aprendido nas campanhas do sul. Ao acercar-se do cerne da terrível construção, não deu de caras com o mítico animal. Antes tropeçou numa acumulação desordenada de ossos que cedo descobriu, serem os seus antecessores. Em vez do júbilo ansiado sentiu uma dúvida ensombrar-lhe o coração. As paredes agingantaram-se em seu redor e a voz que o guiara até então, deixara de ecoar pelas paredes do caminho. Angustiado percebeu que o verdadeiro labirinto começava ali.