Olhou para o fim da rua e, onde antes batia o sol matinal, na parede caiada da tasca do caldo verde, havia agora uma roda de
movitrons, paredes meias com contentores de lixo em cima dum inexistente passeio. Arrghhh!!! a raiva que aquilo lhe dava. Um pouco mais abaixo, o largo e as suas árvores. O largo já não era largo, era um parqueamento de
movitrons, e as árvores, parquímetros. Havia-os em toda a parte. A Cidade pouco a pouco foi desaparecendo, dando lugar a uma massa informe de metal, borracha e fibra de vidro, toda envolta numa névoa pestilenta e venenosa. Os cidadãos sem se aperceberem, apesar de serem coniventes, acabaram com a vida na Cidade, entregando-se a uma espécie de existência amorfa, como ratos num labirinto que começa mas nunca acaba. Ah! Pensava o homem, se havia Cidade merecedora dum castigo bíblico era aquela. Um dilúvio para limpar as ruas, um terramoto para abalar as suas fundações e no fim, o proverbial fogo celestial para purificar toda a minha gente. Riu-se do alto do seu ateísmo: eis uma prova da inexistência de Deus, a existência desta Cidade. Não se coibia de fantasiar sobre os castigos a infligir aos habitantes da Cidade, divinos ou não. «Cometemos o mais grave dos oito pecados mortais – o da Estupidez.»
4 comentários:
24 de agosto de 2009 às 20:59
Já Einstein dizia: "Na Natureza, só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. Não necessáriamente por esta ordem".
E o que é um movitron?
24 de agosto de 2009 às 22:15
E do Universo ele tinha dúvidas quanto a ser infinito.
Um movitron...Pois, boa pergunta. É um veículo parente do automóvel num futuro próximo. Contrariamente às previsões, continuará a ser altamente ruidoso e poluente.
25 de agosto de 2009 às 11:28
Esse 8 pecado é o que mais se pratica em Portugal, então no meio da classe politica é só pecadores :)
beijos
25 de agosto de 2009 às 11:52
A classe política, lá está, um conjunto de indivíduos merecedor dum belo castigo daqueles do Antigo Testamento.
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