Todos os dias ao sair de casa, Abrenúncio abria a caixa do correio e examinava-a rigorosamente só para chegar à conclusão que a carta ainda não tinha chegado. Depois do dia de trabalho, quando regressava ao lar, abria novamente a caixa e com a mão perguntava ansioso pela carta mas a resposta da caixa era sempre o vazio. O carteiro podia tocar sempre duas vezes, mas quanto a passar pelo mesmo sítio, só passava uma. Às vezes saía para correr; o jogging solitário fazia-lhe bem, arejava-lhe as ideias e regulava-lhe a ansiedade. Ansiedade esta que voltava imediatamente quando, antes de entrar em casa, Abrenúncio voltava a conferir a caixa postal. Mesmo ao fim-de-semana, mesmo sabendo que o carteiro estava de folga, Abrenúncio procurava pela carta. Eu, que estou a escrever este texto, sei com certeza absoluta que a carta nunca chegará, mas Abrenúncio é movido por uma força própria. Uma força que tem origem na esperança ou talvez no desespero. Não sei dizer.
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