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Clemência

| segunda-feira, 11 de maio de 2009 | |
Havia já algum tempo que o homem estava deitado no chão a pedir clemência. Em volta dele, os agentes da autoridade cósmico-metafórica não se cansavam de lhe explicar, com o cardado das botas, a verdadeira e respeitosa forma de pedir por clemência. Nisto chegou o santíssimo padre a voar baixinho num preservativo insuflável:
- Parem imediatamente em meu nome – Gritou irritado o santo padre – Não vêem que estão a fazer tudo mal?- E logo se prontificou a mostrar como se fazia. Pediu emprestado um bastão a um dos agentes, e, com uma fúria divina desferiu violentos golpes na cabeça do energúmeno até que o sangue jorrasse vermelho pela calçada. O energúmeno contudo, continuava sem saber qual a maneira decente de pedir clemência. Entretanto, surge o sr. Engenheiro no seu fato de jogging. Ora, ao senhor engenheiro(que suava em bica) não lhe agradou nada ver o santo padre naqueles preparos interagindo tão agressivamente com um dos seus contribuintes, e, alegando a separação de poderes entre Igreja e o Estado, conseguiu afastar o outro para um canto.
- Prestem bem atenção! Eu vou-lhes mostrar como isto se faz – discursou o engenheiro para a multidão que entretanto se juntara, e nisto, a um estalo de dedos seu, sai do aglomerado a trupe de ministros da república, munidos de paus e pedras, pregos ferrugentos, fisgas e bombinhas de carnaval, e num descontrolado acesso de raiva caem em cima do homem com todas as suas manhas eleitorais.
O homem acabou por ficar feito em pedaços no meio de tanta confusão, mas quase no fim, a multidão já sabia gritar em coro:«Clemência! Clemência!». E assim é que era bonito.

2 comentários:

roserouge Says:
11 de maio de 2009 às 22:26

Os teus textos são uma trip, rsrsr..

El Matador Says:
11 de maio de 2009 às 22:48

Sempre a voar baixinho, como os crocodilos.