Ildefonso encostava-se sempre na mesma esquina, onde acendia um cigarro e esperava calmamente pela sua vítima. Era a rua mais movimentada da cidade, por isso nunca esperava muito tempo até que passasse alguém que fizesse o seu género, ou seja, qualquer pessoa. A escolha era completamente aleatória, geralmente esperava até o cigarro chegar ao fim e escolhia a primeira pessoa que se lhe cruzasse. Depois era dar asas à velha obsessão, que era a de perseguir as pessoas pelas ruas, enquanto estas faziam a sua vida normal. Como nunca teve amigos, nem em criança, nunca experimentou o verdadeiro fenómeno da socialização; as suas alegrias e desventuras. Por isso gostava de seguir as pessoas, de vê-las a sorrir, a conversar na esplanada do café, a discutir acaloradamente, a fazer compras, a namorar, a chorar...Era um vampiro emocional. Gostava muito de estádios de futebol, não por causa do jogo em si, mas pelas emoções selváticas que aí podia sugar. No trabalho era o Chefe, e ninguém gostava dele, e essa era umas das sensações a que estava mais habituado: o ódio. Aos sábados, quando as famílias iam para a praia, ou passear para o jardim com as crianças; Ildefonso gostava de assistir a funerais, o cemitério era outro dos seus locais favoritos. Eram poucas as pessoas que davam pela presença daquele homenzinho, que nada dizia, que não incomodava e que praticamente não existia. Ildefonso era um solitário de raça lobo.
2 comentários:
7 de maio de 2009 às 20:56
Gostas muito de Paul Auster, não gostas?
7 de maio de 2009 às 21:15
Hummm, nem por isso.
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