Labregoísio não encontrava a saída da estação e havia já duas horas que andava às voltas. Parecia não haver portas naquele espaço; uma gigantesca redoma hermeticamente fechada. No entanto as pessoas continuavam a entrar. Por onde? Não sabia. Quando tentava sair era empurrado por um fluxo de seres em debandada que entravam por...Algures. Era como se se materializassem num qualquer ponto de elevada estranheza quântica.
Estava outra vez no mar bravo; a bandeira vermelha, os salva-vidas a jogarem à cartas, ele a querer sair da água onde nunca deveria ter entrado e as vagas a negarem-lhe o intuito. As pessoas movem-se como a correnteza, anónimas, força bruta que nos empurra para um lado e para outro, que nos esmaga ou nos traz ao de cima, em que praia irão rebentar?
Perguntou a uma senhora pela saída e esta transformou-se num pilar de sal petrificado, mudo, olhar perdido no horizonte, como se tivesse visto algo que não devia. Deu duas voltas à estação, e depois mais duas e regressou sempre ao ponto de partida. Estou sempre a voltar ao mesmo sítio, há anos que ando em circulos. Os comboios partiam e chegavam; mais gente, a corrente cada vez mais forte, a voz fanhosa do homem nos altifalantes fazia-lhe dor de cabeça. O que ele queria era sair dali, tinha pessoas à espera, pensava. Como é que se sabe que estão pessoas à nossa espera? A estação aumentava e contraía de tamanho, como um coração. Preciso de encontrar uma aurícula urgentemente. Ou será um ventrículo? Estava perdido. Outra vez. A última tinha sido no supermercado.
Estava outra vez no mar bravo; a bandeira vermelha, os salva-vidas a jogarem à cartas, ele a querer sair da água onde nunca deveria ter entrado e as vagas a negarem-lhe o intuito. As pessoas movem-se como a correnteza, anónimas, força bruta que nos empurra para um lado e para outro, que nos esmaga ou nos traz ao de cima, em que praia irão rebentar?
Perguntou a uma senhora pela saída e esta transformou-se num pilar de sal petrificado, mudo, olhar perdido no horizonte, como se tivesse visto algo que não devia. Deu duas voltas à estação, e depois mais duas e regressou sempre ao ponto de partida. Estou sempre a voltar ao mesmo sítio, há anos que ando em circulos. Os comboios partiam e chegavam; mais gente, a corrente cada vez mais forte, a voz fanhosa do homem nos altifalantes fazia-lhe dor de cabeça. O que ele queria era sair dali, tinha pessoas à espera, pensava. Como é que se sabe que estão pessoas à nossa espera? A estação aumentava e contraía de tamanho, como um coração. Preciso de encontrar uma aurícula urgentemente. Ou será um ventrículo? Estava perdido. Outra vez. A última tinha sido no supermercado.
8 comentários:
31 de agosto de 2010 às 23:43
"As pessoas movem-se como a correnteza, anónimas, força bruta que nos empurra para um lado e para outro, que nos esmaga ou nos traz ao de cima, em que praia irão rebentar?"
Texto excelente. E versas assuntos com os quais nos debatemos quase diariamente (e já tinha reparado nisso anteriormente).
31 de agosto de 2010 às 23:47
obrigado blue.
1 de setembro de 2010 às 16:38
Acho que andamos todos perdidos dentro de nós próprios, como o Labregoísio.
1 de setembro de 2010 às 16:47
Uns dias mais que outros.
1 de setembro de 2010 às 22:22
sabes que às vezes é bom andarmos assim? Eu acho!
1 de setembro de 2010 às 22:26
É bom se for propositado.
2 de setembro de 2010 às 08:25
Excelente forma de representar as nossas incertezas, os momentos em que estamos perdidos dentro de nós mesmos, nos deixando levar pelo fluxo de pessoas, emoções ou a falta de ambas.
A questão não é se há uma luz no fim do túnel
A questão é você não entrar no túnel
Poeta Miró da Muribeca, 2010
Beijos,
Ane
2 de setembro de 2010 às 09:57
E a luz ao fim do túnel às vezes é um comboio.
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