O fiscal fuça com o fácies da doninha e a curiosidade do abutre. O fiscal gosta de revolver no lixo. No lixo dos outros. Arranca o cascarrão e joga sal na ferida. Ri-se com a desfaçatez da hiena. O fiscal vê a doença onde deixa cair o olhar. Por detrás dos óculos escuros não existem olhos mas buracos negros, poços fundos que sugam a luz e a vida e a morte... Condicionado para só ver a ignomínia é um escravo que palmilha a terra lesionada pelos seus passos, pela busca incessante da podridão. É um servo de deus. Um condenado. O fiscal almoça e janta sozinho os restos da carne putrefacta. O fiscal vive na eterna ilusão de ser temido e respeitado, mas, o que toma por medo, é simples asco e por respeito, apenas desprezo. O fiscal insinua-se na vida como um amigo, mas não pode ter amigos. A amizade não pode ser fiscalizada; vive dessa liberdade que não pode ser escrutinada e que o fiscal não conhece. O fiscal não conhece a liberdade nem gosta dela. O fiscal tem uma única satisfação: a promessa de vida eterna. A vida do fiscal não pertence a este mundo. Este mundo não o enaltece.
10 comentários:
18 de agosto de 2010 às 09:58
"A amizade não pode ser fiscalizada; vive dessa liberdade que não pode ser escrutinada"
Folgo em saber que não sou a única a ver as coisas desta forma. Há alturas em que acho que as pessoas pensam que a amizade se traduz em troca de favores...Sinto-me uma pessoa muito estranha por pensar o contrário.
O texto está, como sempre genial!
Beijos
beijos
18 de agosto de 2010 às 11:02
Folgo em saber que pensas assim Joaninha.
18 de agosto de 2010 às 23:00
Leio este blog há algum tempo.
Bj
18 de agosto de 2010 às 23:43
És sempre bem-vinda.
21 de agosto de 2010 às 20:24
Fiscalizar não é uma actividade recompensadora.
21 de agosto de 2010 às 20:34
Não, de facto.
27 de agosto de 2010 às 19:03
Será sempre esse o destino dos cobradores de impostos do rei.
27 de agosto de 2010 às 20:13
Exacto.
7 de setembro de 2010 às 22:55
é triste. só isso.
bjs**
8 de setembro de 2010 às 09:52
:(
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