Certa vez, de visita a uma cidade do estrangeiro, Zeferino deparou-se com um pedinte que lhe despertou a atenção. Foi na escadaria que levava ao Castelo; prostrado de joelhos, com a testa afundada nos antebraços e as palmas das mãos em concha viradas para cima. Não falava e não se mexia um centímetro que fosse, deixava-se estar apenas, em silêncio, como se pedisse clemência, num acto de tal abnegação que intrigava quem passava: estaria a pedir esmola, ou estaria a pedir perdão? As pessoas, intrigadas, seguiam caminho; receavam que ao deixar a esmola o pudessem despertar de tão profunda meditação.
Horas depois, já na vinda para baixo, Zeferino foi encontrar o homem no mesmo sítio na mesmíssima posição, como se o tempo não tivesse passado por ele, como se duma estátua se tratasse, como se não estivesse vivo. Uma diferença apenas: na concha das mãos aninhavam-se algumas moedas, alguém já tinha feito a experiência e confirmado a tese, era mesmo um pedinte.
Hoje, ao passar por uma esplanada, onde um grupo de senhoras trincava pastéis de nata polvilhados de canela, Zeferino, numa associação de ideias transviadas lembrou-se do mendigo estrangeiro:
- Um dia destes havemos estar todos como o pedinte – pensou – Uns de joelhos, outros a pedir esmola.
13 comentários:
27 de maio de 2010 às 04:15
Credo, Eli! Vade retro...
O Zeferino que tome as gotas! Ou um cházinho de camomila, sei lá...
27 de maio de 2010 às 08:36
Acabou-se o chá.
27 de maio de 2010 às 11:41
Andamos lá muito perto...
27 de maio de 2010 às 11:47
Temo-nos esfoçado.
27 de maio de 2010 às 15:04
Podemos dizer que de certa forma somo empreendores nesse campo...Temos feito tudo ao nosso alcançe, a meta está cada vez mais próxima!
;)
27 de maio de 2010 às 23:31
O pedinte era mesmo pedinte?
...uma pessoa séria, com personalidade
27 de maio de 2010 às 23:34
penso que sim ó Pierrot.
28 de maio de 2010 às 00:15
Sabes com estas coisas da arte contemporânea, pode ser um artista.
Um homem estátua...
28 de maio de 2010 às 08:36
Ahaha, não, não. Era mesmo um pedinte Pierrot. Acabei por ver mais espalhados pela cidade, e pedem todos naquela posição. Mas este realmente deixava dúvidas.
28 de maio de 2010 às 14:16
Pedir esmolas é fácil...agora de joelhos... isso é mais dificil... só se for para tapar a cara de vergonha...ou será sinal de humildade!?
28 de maio de 2010 às 14:27
A mim pareceu-me de humildade mesmo Tulipa. A fotografia não expressa muito bem, mas ao vivo vê-se que é humildade.
5 de junho de 2010 às 18:47
a mim parece-me que o senhor estava apenas prostrado. só isso. as moedinhas... vieram a calhar, pronto.
Beijinhos**
6 de junho de 2010 às 05:52
Tamém é verdade.
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