Abrenúncio estava aborrecido. Então, decidiu atacar a vaga de tédio com algo que lhe garantia sempre uma boa distracção: correr atrás dos automóveis na auto-estrada. Desta vez porém, resolveu inovar um pouco e foi todo nu. Não havia maior sensação de liberdade para Abrenúncio do que aquela de correr livremente pela estrada a fora, de braços abertos, com as partes pudibundas ao vento. Era outra vez o homem no seu estado puro a perseguir a artificialidade brutal da máquina. Gostava da auto-estrada porque não tinha semáforos e era uma via de trânsito rápido, onde podia portanto, atingir as maiores velocidades. Os automobilistas, ao passar por ele, buzinavam muito e faziam-lhe gestos com o dedo médio em sinal de incentivo, o que lhe dava um maior alento quando se sentia cansado. Quando corria, não pensava na vida, nem no aborrecimento nem em nada; ouvia apenas as batidas cardíacas e a respiração cadenciada, como num acalento. Aos poucos, ia deixando de ser o animal racional para se tornar de novo no animal selvagem; numa selva asfaltada; com acessos condicionados e separação física de faixas de rodagem.
11 comentários:
25 de abril de 2010 às 21:22
Às vezes também me apetece fazer como o Abrenúncio... Então fujo para a praia do Meco... Sempre evito os dedos médios! :)) Oh como eu o entendo!
Beijinhos**
25 de abril de 2010 às 22:07
O Abrenúcio é um maluco, qualquer dia ainda se mata. Para se sentir verdadeiramente selvagem tinha que ir tb a conduzir, que mania de ser diferente. Que tal começar a fazer jogging à beira mar!? Muito mais saudável. Kiss
25 de abril de 2010 às 23:50
O teu humor é pungente!
Não sei como é que fazes mas traduzes nas situações mais ridículas imagens tão claras dos sentimentos.
Deixa-me sempre a pensar o Abrenúncio, adoro-o!
26 de abril de 2010 às 08:30
@Lala: Apetece a toda gente aposto.
@Tulipa: Sim, à beira mar é muito mais saudável mas muito menos radical.
@Teresa: O Abrenúncio agradece e eu também.
26 de abril de 2010 às 23:31
Cá pra mim, o Abrenúncio diverte-se muito mais do que tu...
26 de abril de 2010 às 23:56
Na volta...
29 de abril de 2010 às 18:02
Mas tu tens uma ideias!!!
Na verdade, a estrada é uma selva por isso, porque não despir a roupa e tornar-se parte dela tal como vira ao mundo!
Tal com o um animal no seu estado natural, contra todos os outros com as suas máquinas suicidas?
29 de abril de 2010 às 18:26
É mesmo isso MZ, obrigado pela visita.
3 de maio de 2010 às 21:23
Olá El Matador,
Já não escrevia aqui, há muito tempo...
" ...resolveu inovar um pouco e foi todo nu"
ah ah ah
Sabes, gostaria muito de ver uma publicidade com o Abrenúncio, a correr atrás dos carros, todo nu, pelas estradas da Serra de Monchique, para promover o belo Medronho do Algarve. ;)
Abraço,
Pierrot le fou
3 de maio de 2010 às 21:54
É verdade Pierrot, long time no see.
Aposto que o Abrenúncio não se importava nada de dar o corpo ao manifesto para promover essa bela bebida que é o Medronho de Monchique.
Abraço
3 de maio de 2010 às 22:46
Aguardamos todos.
Quando a publicidade estiver quase pronta, avisa.
Quero estar presente na apresentação oficial (do medronho).
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