O sonho. As nuvens cinzentas que revolteiam e se colam ao asfalto. A paragem do autocarro. O deserto. Acorda.
Levanta-se estremunhada com o fio do sonhos a escorrer-lhe ainda pelos olhos. Não sabe ainda se é uma sensação boa ou má, o acordar. Toma o pequeno-almoço como um sacrifício moderno. Um ritual que é preciso; a transição entre o mundo onírico e a realidade absurda. Precisamos de separadores na nossa vida, como os dossiers, senão já não sabemos onde estamos.
A estrada. É sempre a mesma; os condutores à sua volta são sempre os mesmos. Cumprimenta-os, já os conhece. Não se mexem; o asfalto é que roda por debaixo deles. Sonham alguns, outros já estão mortos. No sonho está numa paragem de autocarro. No deserto. No deserto o asfalto não aborrece. O autocarro é conduzido por alguém que lhe desperta o desejo. Os passageiros são pessoas que nunca viu; cumprimenta-as, desta vez com um sorriso feliz. A viagem segue ondulada pelas dunas. O condutor pisca-lhe o olho e ela sente uma vertigem.
O dia à sua volta passa como num filme. Em câmara lenta. As vozes são distorcidas, a banda sonora é má. O ruído branco das reuniões. A máquina do café avariada. O crocitar das gralhas que lhe pousam nos ombros. O almoço moído pela máquina de revolver comida. Marcar consulta no dentista – toma nota.
A estrada. O regresso. Acena aos condutores; um adeus desta vez. Boceja. O asfalto rola e a caravana passa.
Janta. Mais um separador. Temos que separar o trabalho da vida na cama. A vida na cama é importante; às vezes não há vida na cama. O chumbo. É o peso da cabeça. Fecha os olhos. As nuvens cinzentas, cada vez mais rasas, colam-se ao asfalto. Uma paragem; um autocarro. A cabeça, mais leve, enche-se de deserto.
Levanta-se estremunhada com o fio do sonhos a escorrer-lhe ainda pelos olhos. Não sabe ainda se é uma sensação boa ou má, o acordar. Toma o pequeno-almoço como um sacrifício moderno. Um ritual que é preciso; a transição entre o mundo onírico e a realidade absurda. Precisamos de separadores na nossa vida, como os dossiers, senão já não sabemos onde estamos.
A estrada. É sempre a mesma; os condutores à sua volta são sempre os mesmos. Cumprimenta-os, já os conhece. Não se mexem; o asfalto é que roda por debaixo deles. Sonham alguns, outros já estão mortos. No sonho está numa paragem de autocarro. No deserto. No deserto o asfalto não aborrece. O autocarro é conduzido por alguém que lhe desperta o desejo. Os passageiros são pessoas que nunca viu; cumprimenta-as, desta vez com um sorriso feliz. A viagem segue ondulada pelas dunas. O condutor pisca-lhe o olho e ela sente uma vertigem.
O dia à sua volta passa como num filme. Em câmara lenta. As vozes são distorcidas, a banda sonora é má. O ruído branco das reuniões. A máquina do café avariada. O crocitar das gralhas que lhe pousam nos ombros. O almoço moído pela máquina de revolver comida. Marcar consulta no dentista – toma nota.
A estrada. O regresso. Acena aos condutores; um adeus desta vez. Boceja. O asfalto rola e a caravana passa.
Janta. Mais um separador. Temos que separar o trabalho da vida na cama. A vida na cama é importante; às vezes não há vida na cama. O chumbo. É o peso da cabeça. Fecha os olhos. As nuvens cinzentas, cada vez mais rasas, colam-se ao asfalto. Uma paragem; um autocarro. A cabeça, mais leve, enche-se de deserto.
6 comentários:
12 de julho de 2010 às 01:25
o meu dia a dia...
Como soubeste???
=)
12 de julho de 2010 às 08:32
Transmissão de pensamentos?
:)
12 de julho de 2010 às 22:52
Essa pessoa está a precisar duma paixão intensa. Profunda. Violenta. Para ver se acorda.
12 de julho de 2010 às 23:00
Também me parece.
16 de julho de 2010 às 13:29
Precisamos de separadores na nossa vida, como os dossiers. Precisamos também de ir para o arquivo morto, como os dossiers. kiss
16 de julho de 2010 às 15:34
É um destino a que ninguém escapa: o arquivo morto.
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