O recinto estava polvilhado de vendilhões, como convém a qualquer templo que se preze.
Um homem arrasta-se trôpego pelo pavimento. No fim, uma parede; o homem insere uma moeda na ranhura e uma lâmpada de 30 watts acende-se. Um minuto certo está a lâmpada acesa, e com precisão matemática extingue-se ao sexagésimo segundo, reclamando assim a sua fome de vil metal. Para o homem prostrado a missão chega ao fim; a sua prece seguiu para Deus, o seu dinheiro para a EDP.
A multidão acotovelava-se, já não havia mais espaço, nem para a imaginação. Pessoas desmaiavam de pé; um helicóptero dos bombeiros sobrevoava a área e despejava uma carga de água em cima dos crentes, como se apagasse um fogo; a fé essa nunca se apagava e por isso eles continuavam ali, à espera; tinham pago a dízima, tinham cumprido a promessa, faltava a atracção principal.
Por entre holofotes coloridos acompanhados por uma orquestra monumental, o Grande Padre surgiu numa plataforma elevatória, sentado imponente num trono debruado a ouro e tisnado com a mais fina púrpura. Visto assim ninguém desconfiaria que o homem calçava as humildes Sandálias do Pescador; antes lembrava alguém que astuciosamente usurpara o ceptro de César – O Imperador. Era ele quem comandava a chusma naquela noite. Era o MC do momento. Estalou os dedos e milhares de velas acenderam-se a um tempo, dando conta do número de almas que por ali penavam; e o seu número era grandioso.
Quando a Senhora, no alto do andor finalmente surgiu, foi acometida de uma profunda tristeza; a sua expressão não deixava dúvidas, era de pura angústia. O espectáculo não era para menos: os pobres coitados, de joelhos em sangue, batiam palmas e gritavam hossanas; as mulheres acenavam um lencinho branco com uma mão e com a outra seguravam um funil por onde urinavam. Pairava no ar uma toada digna do seu povo: lamuriante, mansa, mal paga. Sob as luzes fortes do palco principal sobressaía o Grande Padre; com um sorriso enjoado não conseguia mais do que chocalhar as jóias.
Cá fora, no mundo real, a miséria continuava na mesma.
Um homem arrasta-se trôpego pelo pavimento. No fim, uma parede; o homem insere uma moeda na ranhura e uma lâmpada de 30 watts acende-se. Um minuto certo está a lâmpada acesa, e com precisão matemática extingue-se ao sexagésimo segundo, reclamando assim a sua fome de vil metal. Para o homem prostrado a missão chega ao fim; a sua prece seguiu para Deus, o seu dinheiro para a EDP.
A multidão acotovelava-se, já não havia mais espaço, nem para a imaginação. Pessoas desmaiavam de pé; um helicóptero dos bombeiros sobrevoava a área e despejava uma carga de água em cima dos crentes, como se apagasse um fogo; a fé essa nunca se apagava e por isso eles continuavam ali, à espera; tinham pago a dízima, tinham cumprido a promessa, faltava a atracção principal.
Por entre holofotes coloridos acompanhados por uma orquestra monumental, o Grande Padre surgiu numa plataforma elevatória, sentado imponente num trono debruado a ouro e tisnado com a mais fina púrpura. Visto assim ninguém desconfiaria que o homem calçava as humildes Sandálias do Pescador; antes lembrava alguém que astuciosamente usurpara o ceptro de César – O Imperador. Era ele quem comandava a chusma naquela noite. Era o MC do momento. Estalou os dedos e milhares de velas acenderam-se a um tempo, dando conta do número de almas que por ali penavam; e o seu número era grandioso.
Quando a Senhora, no alto do andor finalmente surgiu, foi acometida de uma profunda tristeza; a sua expressão não deixava dúvidas, era de pura angústia. O espectáculo não era para menos: os pobres coitados, de joelhos em sangue, batiam palmas e gritavam hossanas; as mulheres acenavam um lencinho branco com uma mão e com a outra seguravam um funil por onde urinavam. Pairava no ar uma toada digna do seu povo: lamuriante, mansa, mal paga. Sob as luzes fortes do palco principal sobressaía o Grande Padre; com um sorriso enjoado não conseguia mais do que chocalhar as jóias.
Cá fora, no mundo real, a miséria continuava na mesma.
16 comentários:
6 de maio de 2010 às 22:15
Tive de voltar ao "Dia 4" de Março. Eu sabia que esta fé(zada) toda não podia ficar assim... sem uma personagem das tuas... é que dizes que o dinheiro dos fiéis era para a EDP... mas eu cá não me fio nisso... eu cheira-me que o Zeferino está por detrás daquela parede, a sacar as moedas e a ligar e a desligar o interruptor com uma mão e a contar segundos com um cronómetro na outra... Enquanto Ildefonso trava largos dedos de conversa com as noviças ressabiadas e, no meio daquela multidão de miseráveis ensanguentados, Abrenúncio disfarça-se de acólito para que Esmeraldina não dê com ele...! Isto é o que eu acho!
**
As pessoas quando não encontram respostas para os seus problemas agarram-se às "fés"... não importa quanto custa!
Genial, mais uma vez! Adorei!
Beijinhos**
Ps: meti-te aí o pessoal todo num reboliço do caraças!
6 de maio de 2010 às 22:34
Arranjaste um bom enredo para a malta do costume que desta vez não apareceu.
Não me importa muito a fé das pessoas, chateia-me é o que se faz em nome das pessoas com fé.
bjs
6 de maio de 2010 às 22:39
Este texto também dava para a fábrica... à sua maneira também é uma paixão... pelo menos de um lado...
6 de maio de 2010 às 22:52
Pois é! Não tinha pensado nisso.
6 de maio de 2010 às 23:16
É que quando eles não aparecem, eu sinto falta deles e tenho que os colocar em cena!!
O johnny tem razão (credo!), esta é também uma paixão, quase que inexplicável, que move multidões, que leva as pessoas a sacrificarem-se em prol do ultrajante bem estar de uns quantos! Em nome de um senhor que ninguém sabe quem é.
O que se faz em nome das pessoas com fé, na minha opinião, acontece porque as pessoas (com fé) se tornam fanáticas por aquilo em que acreditam... já não é a fé a mover montanhas... é o fanatismo das pessoas... por isso é que digo: "não importa o preço".
Já não existe o mínimo razoável. as pessoas aceitam tudo por um bom pedaço de céu... como se as boas acções se vendessem... poderia falar aqui muito mais sobre a fé mas, para isso, nunca mais saía daqui!!
Eu tenho fé. Em mim.;) E na natureza. Respeito e acredito nas suas forças!
6 de maio de 2010 às 23:23
Havia tanto para dizer mas não temos tempo :)
6 de maio de 2010 às 23:29
É um cenário deveras triste este que traçaste e que em breve vamos poder assistir...
Gostei do unicórnio cor de rosa ;)
kisses
7 de maio de 2010 às 00:02
Vamos ver e vamos ter que pagá-lo também.
bjs
7 de maio de 2010 às 19:58
"A revolução virá, no dia em que proibirem os funis!"
(Pierrot le fou, 2010)
7 de maio de 2010 às 22:12
AHAHAHAHAHAHAHAHA, partes isto tudo ò Pierrot!
7 de maio de 2010 às 22:49
Eh eh eh. Sempre em grande, Eli! Clap, clap, clap! (Eli = leia-se "ilái").
8 de maio de 2010 às 13:25
Ehehehe, pensava que era Elinho
10 de maio de 2010 às 00:33
Olá, El Matador...
estou passando aqui para lhe dizer que seu blogue está entre os meus 15 escolhidos ao Prêmio Dardos.
Todas as especificações sobre o prêmio está na última postagem do meu blog:
http://curvasdapalavra.blogspot.com/2010/05/premio-dardos.html
Passe lá para conferir.
Abraço.
Ricardo.
10 de maio de 2010 às 10:52
Obrigado pelo prémio Ricardo
10 de maio de 2010 às 13:54
"Pairava no ar uma toada digna do seu povo: lamuriante, mansa, mal paga. Sob as luzes fortes do palco principal sobressaía o Grande Padre; com um sorriso enjoado não conseguia mais do que chocalhar as jóias."
Curioso, cai que nem uma luva ao Papa e ao Socrates :).
Beijo
10 de maio de 2010 às 14:14
Nem tinha reparado. ;)
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