Ildefonso arrastava-se pelo sofá imitando um qualquer animal invertebrado. Com os braços pendidos, erguia-se por cima das almofadas contorcendo-se lentamente até achar a posição adequada. De lábio inferior descaído e olhos tardios, deixava-se estar até chegar a altura de rastejar para outro canto da sala. O telefone tocava a intervalos curtos, mas para Ildefonso o aparelho encontrava-se a anos-luz de distância. Mesmo que lá chegasse, os braços recusar-se-iam a funcionar, por isso «é escusado telefonarem» pensava Ildefonso à laia de mensagem de gravador de chamadas. Dormitava naquela modorra povoada de sonhos estranhos; onde podia correr, saltar e até voar a uma velocidade vertiginosa. Depois acordava com um fio de baba a escorrer-lhe do canto da boca, empapando-lhe a bochecha.
«Ahh!» Balbuciava. Gregor Samsa podia não saber em que ser repelente se havia transformado, mas Ildefonso sabia-o bem: «sou uma lesma!».
4 comentários:
16 de setembro de 2009 às 15:47
no pain no gain...
bigger...
faster...
stronger.....
16 de setembro de 2009 às 16:38
Disse ele em grego.
17 de setembro de 2009 às 09:28
Chama-se a isso "alagartar" no sofá. Que é uma coisa fantástica para se fazer ao domingo à tarde, por exemplo...
17 de setembro de 2009 às 11:13
Eu cá chamo-lhe embezerrar, e sim, sabe bem ao domingo. Ao domingo e não só, mas pronto, um indivíduo tem que trabalhar.
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