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#248

| segunda-feira, 30 de maio de 2011 | |
"Mares convulsos, ressacas estranhas
Cruzam-te a alma de verde escuro
As ondas que te empurram
As vagas que te esmagam…"
Xutos e Pontapés

Abrenuncio, por vezes, sente-se encurralado entre dois mundos. Um sentimento crescente que agora lhe dá para analisar. Do ponto de vista romanesco-literário situa-se entre Kafka e Pedro Paixão. Vive o absurdo de um no meio da extrema solidão do outro.
A angústia tem a forma de duas espirais, pensa; uma que sobre outra que desce. Abrenúncio percorre a segunda com um extremo sentimento de não compreender o rumo da sua própria vida; o como e porquê de se encontrar nesta ou naquela situação, nem como ali chegou. A ignomínia é um fardo de chumbo que carrega sobre os ombros. Assim como a incompreensão e a culpa. Mais que tudo é a vergonha que o puxa para baixo, como vagas gigantescas no mar bravo. Não é moço de remar contra a maré, nem só com um braço como se vivesse sob o signo de Camões. Sente o peso e deixa-se ir; cansado. Os olhos pedem descanso , o corpo pede repouso, a alma implora por silêncio.
No fim de contas é tudo o que precisa: silêncio. Um pouco de silêncio para dormir, um  silêncio que dure dez anos.

13 comentários:

Anónimo Says:
30 de maio de 2011 às 21:46

Num mundo conturbado por tudo e por nada, o silêncio é a melhor opção. Mas por dez anos?!
É a loucura.


:)

El Matador Says:
30 de maio de 2011 às 21:50

é a década do silêncio.
:)

Unknown Says:
31 de maio de 2011 às 12:45

O Abrenúncio está a precisar de vir festejar os santos populares :)

El Matador Says:
31 de maio de 2011 às 14:16

Também me parece.

Catsone Says:
31 de maio de 2011 às 20:34

Adoro o contraste entre os nomes que dás às personagens e a complexidade de alguns textos.

El Matador Says:
31 de maio de 2011 às 20:54

Sempre fui muito mau a arranjar nomes para personagens. Neste blog optei por isso mesmo, pelo contraste.

luisa Says:
31 de maio de 2011 às 23:24

Hoje estou quase como o Abrenuncio... por iso acho que vou mesmo dormir. :)

El Matador Says:
31 de maio de 2011 às 23:33

também estou quase :)

Briseis Says:
2 de junho de 2011 às 11:06

Volta e meia essa necessidade de silêncio oco vem e afunda-nos... Mas passa. Passa sempre. Porque o silêncio faz soarem mais alto os fantasmas de dentro, e aí ansiamos por ruído que os abafe.

El Matador Says:
2 de junho de 2011 às 11:09

Também está bem visto.

mz Says:
6 de junho de 2011 às 19:17

São os altos e baixos da vida.
Se a nossa prestação não é a esperada, há que parar para reflectir.
Mas dez anos de silêncio? Os silêncios assim tão grandes definham o progresso até mesmo o do pensamento.

Unknown Says:
27 de junho de 2011 às 03:30

Realmente, a angústia tem a forma de duas espirais. Bela metáfora... Eu, assim como Abrenúncio, percorro a segunda. E diante de tamanha incompreensão, o silêncio é sempre o melhor caminho.

Um grande abraço,
Ane

El Matador Says:
27 de junho de 2011 às 08:47

Abraço pra ti Ane