Labregoísio, que sempre fora um indivíduo calmo e ponderado, começou a sentir uma ponta de irritação descer-lhe pela espinha abaixo. Era a terceira vez que se cortava a fazer a barba e ainda mal tinha principiado. Não que a barba em si fosse um desafio. Essa desaparecia a golpes precisos de máquina de barbear que tinha seis lâminas electromagnéticas. O que o deixava mesmo desaustinado era a sua vizinha. Mais propriamente a gritaria desta logo pela manhã. A filha não dormia e a vizinha achava que esse martírio era algo que deveria de ser partilhado com o resto dos condóminos.
Labregoísio era senhor de um sinal de nascença na face, daqueles que são muito bonitos até que ao mínimo corte desatam numa sangria bíblica. E quando digo bíblica refiro-me ao antigo testamento. No novo também há sangue, mas é só no fim quando (spoiler alert) o Cristo morre.
Naquela manhã, estava Labregoísio a executar a tarefa minuciosa de contornar o sinal com o sexteto de lâminas afiadíssimas; manobra que exige a concentração dum cirurgião senão a frieza dum talhante, quando começa a vizinha num pranto O QUE É QUE EU FAÇO A ESTA MOÇA MEU DEUS???. A vizinha gritava numa voz fininha e irritante como se não houvesse amanhã, e quanto mais a vizinha gritava mais a criancinha chorava, e quanto mais a criancinha chorava mais a vizinha se exasperava MAS O QUE É QUE TU QUERES? JÁ NÃO TE POSSO OUVIR MOÇA DO DEMÓNIO!!!.
Ora a mão de Labregoísio que se queria firme, largava numa dessas danças desengonçadas ao ritmo da gritaria da outra, o que se traduzia em lacerações várias. O sangue escorria qual praga do Egipto e Labregoísio era um daqueles homens que não podia ver sangue. Não daqueles que ficam amarelos e depois desmaiam, não. Labregoísio transformava-se. Desceu a escadas e bateu à porta da vizinha. A vizinha, de criança a chorar ao colo, abriu a porta e deparou-se com um homem estranho de máquina de barbear em punho.
Com a cara coberta de pedaços de papel higiénico vermelho, e uns olhos que faiscavam ódio visceral, já não era Labregoísio que ali estava, era Romualdo, e este só tinha uma dúvida: carótida ou jugular?
Labregoísio era senhor de um sinal de nascença na face, daqueles que são muito bonitos até que ao mínimo corte desatam numa sangria bíblica. E quando digo bíblica refiro-me ao antigo testamento. No novo também há sangue, mas é só no fim quando (spoiler alert) o Cristo morre.
Naquela manhã, estava Labregoísio a executar a tarefa minuciosa de contornar o sinal com o sexteto de lâminas afiadíssimas; manobra que exige a concentração dum cirurgião senão a frieza dum talhante, quando começa a vizinha num pranto O QUE É QUE EU FAÇO A ESTA MOÇA MEU DEUS???. A vizinha gritava numa voz fininha e irritante como se não houvesse amanhã, e quanto mais a vizinha gritava mais a criancinha chorava, e quanto mais a criancinha chorava mais a vizinha se exasperava MAS O QUE É QUE TU QUERES? JÁ NÃO TE POSSO OUVIR MOÇA DO DEMÓNIO!!!.
Ora a mão de Labregoísio que se queria firme, largava numa dessas danças desengonçadas ao ritmo da gritaria da outra, o que se traduzia em lacerações várias. O sangue escorria qual praga do Egipto e Labregoísio era um daqueles homens que não podia ver sangue. Não daqueles que ficam amarelos e depois desmaiam, não. Labregoísio transformava-se. Desceu a escadas e bateu à porta da vizinha. A vizinha, de criança a chorar ao colo, abriu a porta e deparou-se com um homem estranho de máquina de barbear em punho.
Com a cara coberta de pedaços de papel higiénico vermelho, e uns olhos que faiscavam ódio visceral, já não era Labregoísio que ali estava, era Romualdo, e este só tinha uma dúvida: carótida ou jugular?
8 comentários:
17 de setembro de 2010 às 17:18
Romualdo é um pacifista :)
17 de setembro de 2010 às 19:50
É, uma paz de alma.
17 de setembro de 2010 às 22:15
Ai, que se me doeu a alma!
17 de setembro de 2010 às 22:25
Não há-de ser nada.
21 de setembro de 2010 às 10:34
CAROTIDA! OIÉ!
É mais rapido!
hihihihi.
Brilliant como costume.
Olha e que tal um exercicio de escrita. Escrever um texto chato e desinteressante (e mal escrito de preferencia) para o pessoal vir aqui dizer mal (ou fazer critica construtiva!)
beijos
21 de setembro de 2010 às 13:23
Eheheheh
22 de setembro de 2010 às 05:54
018012Vizinha gritando e criança chorando? Eu também perderia a paciência... Jugular, Romualdo!
Texto muito bem escrito, como sempre! =)
Beijo,
Ane
22 de setembro de 2010 às 14:54
Beijo para ti Ane
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