O homem-estátua da rua de Santo António nunca pára quieto. Faz adeus às pessoas, fala com as crianças e cumprimenta os turistas. O homem-estátua assemelha-se mais a um pantomineiro que está preso ao chão; como se tivesse criado raízes na calçada. Um pantomineiro também não será que estes não falam. O homem-estátua parece antes de mais estar perdido. E no entanto dá mostras de felicidade, não obstante a farpela branca e a cara mal pintada. A única semelhança entre o homem-estátua e uma estátua é que os pombos cagam-lhe em cima com igual desprezo.
Dizem para aí que o homem-estátua, antigamente, seria um severo funcionário do Estado, de maus humores, nenhuns amores; sempre sério e estático. Um homem só portanto; não por opção.
Um dia, ao ouvir falar do homem que largou tudo para se tornar artista de circo, uma luzinha branca bateu-lhe forte na parte detrás do cérebro. Uma luz que cresceu, ramificou-se pelas circunvalações da massa cinzenta e começou a piscar, qual árvore de natal, na parte de dentro da cabeça. Foi então que decidiu tornar-se artista, homem-estátua mais propriamente.
É um mau artista o homem-estátua e por isso às vezes passa fome, mas é muito bom nas relações públicas.
21 comentários:
26 de outubro de 2010 às 20:08
Por falar em homens-estátua, há coisa de 2 anos estive numa vila onde havia um festival de homens estátua. Devo dizer que parecia um filme baseado em algum livro do Stephen King, cruzes canhoto...
26 de outubro de 2010 às 20:12
Eh lá, isso deve ter sido interessante, no mínimo.
26 de outubro de 2010 às 23:00
Acho que vi esse homem-estátua que não tem nada de estátua em Guimarães. Também estava de branco e distraía-se com tudo o que passava perto dele...
... a culpa se calhar é nossa, por pensarmos que ele pretende ser um homem-estátua, quando na realidade ele até pode ser um homem... sei lá... qualquer coisa!
26 de outubro de 2010 às 23:07
Se calhar só quer atenção.
27 de outubro de 2010 às 00:18
e se calhar nem é homem - estátua nem é pantomineiro... se calhar é só ex funcionário público.
27 de outubro de 2010 às 10:05
Se calhar...
27 de outubro de 2010 às 11:12
PANTOMINEIRO! belíssima palavra que não ouvia há tanto tempo... nem que fosse só por isso, já valia a pena. Mas é tudo bom! Tu és bom
27 de outubro de 2010 às 11:36
Eheh, Eu também gosto bastante dessa palavra, lembra-me sempre o manifesto anti-Dantas.
"[...]Não é preciso ir para o Rocio p'ra se ser um pantomineiro, basta ser-se pantomineiro[...]"
27 de outubro de 2010 às 13:24
E passamos quase sempre com indiferença rente ao homem-estátua da rua de Santo António. Ás vezes até o assustamos de tão rente que passamos. E ele então faz psst, psst para assegurar que o vemos e sobretudo que não pontapeamos distraidamente a sua caixinha das moedas... Não sei se ele é o homem estátua ou se é tão só o homem invisível.
27 de outubro de 2010 às 14:12
Descreveste-o melhor que eu, Luísa.
27 de outubro de 2010 às 14:49
ahahahah Estou com esse homem estátua, vale mais ser pantomineiro que funcionário público, mesmo mau. Deve dar mais dinheiro, menos preocupações e devem-se ouvir menos imbecilidades e aturar menos loucos.
27 de outubro de 2010 às 15:18
:):)
29 de outubro de 2010 às 00:55
Eu gosto de homens estátua... Admiro a sua capacidade de estarem horas sem se mexerem (a maior parte deles)e da sua capacidade artística também.
Tenho fotos de quase todos os homens estátua que vi até hoje.
No seu anónimato, vestem figuras estranhas, inventadas ou figuras já mortas. São artistas procurando dar nas vistas. Quanto ganham, não sei!
Não gosto dos outros homens, daqueles homens que não são estátuas, mas estão ali quietos à espera de algo...passam-me ao lado, quase não os vejo, não os fotografo. Por vezes, dou-lhes uma moeda ou por vezes fujo deles.
Envergonho-me por dar mais valor aos homens estátua...
29 de outubro de 2010 às 12:06
são os homem-estátua e os mImo, não gosto sinceramente...
29 de outubro de 2010 às 12:37
Eu imagino sempre alguém que se fartou e largou tudo. É uma arte que vale tanto quanto outra, é um artista. :) kisses
29 de outubro de 2010 às 17:27
Espero não ser mal interpretada, quando digo que não gosto dos outros homens...
Quero acrescentar que "os outros homens" são os mendigos que tantas vezes me passam ao lado, a mim e à sociedade.E, também eles tal como os homens estátuas não são ilhas. Têm toda uma vida dentro deles e à volta deles.
29 de outubro de 2010 às 20:18
@MZ- Este homem é uma mistura dos dois tipos que referiste, foi por isso que me despertou a atenção.
@Otário - Eu dos homens estátuas gosto, já dos mimos tenho que confessar que não vou muito com a cara deles.
@Tulipa - Eu deste também imaginei isso, daí o post.
29 de outubro de 2010 às 22:41
Decidiu ser ele a comandar tudo.
29 de outubro de 2010 às 23:09
Exacto.
8 de novembro de 2010 às 15:04
Não gosto de estátuas: sejam ela homens, mulheres, gesso, mármore, bronze, da liberdade...
Ou não são merecidas ou não nos merecem...
Salvam-se os pombos. Não gosto de pombos...
8 de novembro de 2010 às 16:29
Eu pombos também dispenso.
Enviar um comentário