Jogava sempre com duas
chaves e os resultados saíam-me sempre ao lado. Eu explico, saía sempre
o número ao lado daquele que eu escolhia. Cedo delineei um método
infalível baseado nesta minha descoberta teórica da lateralidade:
comecei então a jogar com três chaves. A primeira e original, a
segunda só com os números ao lado da primeira e a terceira com os
números ao lado da segunda. Não por sorte ou azar, por sarcasmo
apenas, digo eu, começaram a sair os números ao lado dos números
ao lado do números ao lado. Seria o destino a rir-se de mim?
Eu, um não crente da
providencia, um apostador do caos, de imediato urdi um plano para
fintar a aparente ironia poética desse tal destino parvalhão. Optei
pelo cerco, a jogada mais paciente ainda que aparentemente
desesperada: joguei com uma chave ao centro e as outras com os
números todos à volta. O boletim era um massacre, havia cruzes por
todo o lado. Nada! Gastei uma fortuna, duas até, e não me saiu
nada. Cheguei a comparar-me com aquele homem da
televisão que apostava sempre no vermelho e saía-lhe sempre o preto.
Deixar de jogar era fácil, e talvez uma das melhores coisas que
faria na vida, o meu médico havia de gostar, mas não me conformo.
Estou obcecado, tem de haver uma saída, as combinações são incontáveis mas não são infinitas; é só apostar ao lado do lado do lado do
lado do lado... A ansiedade só por
si é o suficiente para me matar. Mas não pode ser, tenho que
continuar, estou viciado. Sou um masoquista ao fim de contas. Um dia
pode ser que me canse
10 comentários:
31 de maio de 2012 às 22:41
É por isso que eu não me maço e deixo tudo por conta da máquina. Ela é que escolhe. Se sair o número ao lado ela que se amofine. E também jogo sempre pelos mínimos. Resulta igual. :)
31 de maio de 2012 às 22:44
ehehehehe!
Os números põe-nos loucos.
:)
31 de maio de 2012 às 23:26
Olha uma vez calhou-me à volta de 2000€ foi uma decepção porque faltava tão pouco para o prémio total. Enfim, foi ao lado!
1 de junho de 2012 às 11:24
Cá para mim, devias dedicar-te às raspadinhas... aquilo de procurar uma moeda e raspar, raspar, raspar é muito catártico e liberta por antecipação o stress de não ganhar nada...
1 de junho de 2012 às 11:42
@Todas: Obrigado por todos os conselhos sábios sobre jogo que aqui deixaram. O problema que eu queria abordar no entanto era mais a ansiedade, o jogo é a metáfora, sim porque eu sou um ser abundantemente metafórico, e às vezes meteórico.
1 de junho de 2012 às 11:49
Peço desculpa por esta intromissão do Abrenúncio, que por vezes acha-se no direito de comentar. Dito isto, sou forçado a concordar com ele.
2 de junho de 2012 às 14:56
joga em boletins diferentes...
21 de junho de 2012 às 17:12
Concordo: flagelar-me pela ansiedade de sairem goradas as minhas expectativas, inclusive ao azar ...
ARrrrrghhhhh
Um abraço do Canto de Cá...
27 de junho de 2012 às 21:30
ahahahah Estou à espera de acertar à anos, sai sempre ao lado
27 de junho de 2012 às 22:52
tb eu
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