...Estranho lugar, aqui. Onde a mais singela beleza e hedionda feiura cruzam a paisagem de mãos dadas, como duas amantes. Não há bela sem senão, ensinam-nos de pequeninos.Há até contos de fadas que nos preparam para essa fatalidade. Como quem nos vai mentalizando para o que há-de vir: Olha que a vida não são só gelados de chocolate, meu menino, também tens que apanhar muita chapada nessa fronha. E os meninos crescem sem estranhar as chapadas na cara que a vida lhes dá. Não reclamam; ficam à espera dos gelados de chocolate. São os acomodados: os felizes.
Há os que se apercebem, no entanto, que a distribuição de estaladas e gelados de chocolate, não é equânime. São inconformados: infelizes.
As mulheres tem parte igual nesta tragédia, se não a pior parte. Entre a opção de felicidade e infelicidade escolhem livremente a segunda; porque foram cerebralmente lavadas desde pequeninas a se tornarem numa versão urbana da Branca de Neve; ainda que às vezes o príncipe não venha de cavalo mas sim agarrado a ele.
É esta a sensação que tenho ao ver os prédios na praia. Uma profunda tristeza na assumpção de que todo o amor vem carregado com uma generosa dose de ódio. Dose esta que alimentamos de bom grado; acarinhamo-lo, regamo-lo e falamos com ele, como se duma planta se tratasse, até que cresça forte e viçoso. Por outras palavras, o nosso olhar não recai no belo mas no horrível, é o seu ponto de fuga, é onde descansa mais sossegado, como os prédios na praia: é o preço de sermos civilizados.
3 comentários:
9 de agosto de 2011 às 17:58
Hum... eu cá sou gaja mas não sou assim, chorinhas. Sou um passarinho alegre e irritante.
A propósito do "o nosso olhar não recai no belo mas no horrível", ando a ler "O Bom Inverno" do João Tordo, que tem uma frase maravilhosa. Não vou citar porque não sei de cor mas a essência é, quando alguém diz "olha para aquilo" a nossa pergunta é sempre "qual é o mal?", porque só o que é mau nos interessa, quando devia ser "qual é o bem?".
9 de agosto de 2011 às 18:12
É estranho... muito estranho como o bom e o menos bom surge como uma espécie de equilíbrio.
9 de agosto de 2011 às 18:35
@Briseis: Fazes bem em ser assim.
@Mz:Pois é...
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