Os dias passam e a caravana passa. Não, não é bem assim. Os cães ladram e os dias passam. Não! Também não me parece que seja assim o adágio!?
Havia já alguns dias que Labregoísio se debatia com o dito popular, como se dum enigma se tratasse; um quebra-cabeças, uma adivinha. O que ele sabia era que os dias pareciam passar mesmo, indiferentes a qualquer polémica pareciam sair ilesos das disputas entre cães e caravanas.
Os dias passam, em catadupa, uns a seguir aos outros, sem travão, sem vergonha, a despeito de rugas e cabelos brancos que com eles se arrastam. E as artroses e artrites e reumáticos e flebites, de quem é a culpa? Do tempo, depurado em dias, que passa mesmo, parece já não haver dúvidas. Ora bolas! Suspirou Labregoísio. Haverá alguma forma de impedir a passagem arrebatadora dos dias, a sua fúria, a sua erosão? Um dia lembrou-se e saiu à rua, logo de manhãzinha para que os dias percebessem a mensagem, e plantou-se em frente de casa, de cartaz na mão, com uma mensagem clara para os dias: Não Passarão! Mas passaram na mesma, os cabrões. Passam sempre. Quem? Os dias ou os cabrões? Os dois.
O que fazer? Labregoísio pesquisa uma forma de enganar os dias; um meio de atenuar a sua passagem pelo menos. É que a esta velocidade acabamos por não ter tempo para nada, nem sequer para apreciar os dias – Explicava Labregoísio aos vizinhos quando estes o encontravam na rua de pijama e cartaz na mão logo pela madrugada.
Um indivíduo um dia acorda e zás!!! Já passaram uma mão cheia de dias, sem que ninguém avissasse. Um dia andamos a correr à sua frente, na maior das despreocupações, e no dia a seguinte já voamos esbaforidos atrás deles,como se não houvesse amanhã. 'Como se não houvesse amanhã' - quem é que inventou esta? Há sempre amanhã! Quando não há para uns há para outros, já se concluiu: eles passam dê lá por onde der.
Em Marte os dias são mais longos; talvez devêssemos viajar para lá. Não os podemos contrariar mas podemos percepcioná-los mais devagar. Imaginem: Uma pessoa de 40 anos, se tivesse nascido em Marte teria agora sensivelmente 20. Um jovem portanto. E em Júpiter, mais além, o indíviduo cheio de experiência e sabedoria teria apenas 3 aninhos, e em Saturno, no meio de tanto anel, apenas 1.
A resposta parece portanto residir na viagem. No movimento para a frente e para longe. Pegar na relatividade e domesticá-la. Eles passam, já sabemos, o importante é o que fazer com eles.
Labregoísio estalou os dedos como quem grita eureka. Tinha solucionado o puzzle. O ditado afinal era simplicíssimo: Os dias ladram e a caravana passa.
9 comentários:
13 de julho de 2011 às 14:02
já que não se pode (ainda) nascer em Marte, ao menos que se nasça a 29 de fevereiro...
13 de julho de 2011 às 14:15
Ahahaha, exacto.
13 de julho de 2011 às 22:35
"Os dias ladram e a caravana passa."
Esta não os escuta. Aqueles cumprem a sua missão.
Labregoísio (como gosto deste nome)
Labrego+ is(que não existe como sufixo),com -io (sufixo), com significado de " vazio, sombrio"
Muito bem pensado.
E os textos também.
13 de julho de 2011 às 23:36
O Labregoísio anda mais preocupado com a duração dos dias do que com o sumo que retira deles, cheira-me... Que levante o rabo lá da esquina onde se plantou e vá à vida. Carpe diem, já diziam os velhotes... Assim, quando os dias, em fila, se rirem porque passaram todos, o Labregoísio pode dizer "passaram todos, mas eu apalpei-lhes o rabo!"
13 de julho de 2011 às 23:49
@Desejo: Bem "descomposto" :)
@Briseis: Ahahahahahahaha
Dava um bom slogan para uma campanha qualquer daquelas para combater o sedentarismo e a obesidade:
"Levante-se e Vá Apalpar o Cu aos Dias"
15 de julho de 2011 às 12:40
M gosta disto
15 de julho de 2011 às 13:30
El Matador e M gostam disto. ahahah
3 de agosto de 2011 às 18:54
Magnífica dissertação história a partir do adágio "Os cães ladram e a caravana passa".
O Labregoísio tem pavor pela passagem do tempo, porque antevê o seu próprio fim para o mundo.
Quem me dera voltar a nascer, mas desta vez em Marte...
;-)
4 de agosto de 2011 às 22:34
e eu em saturno, :)
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