"Poente, fogo na Ria,
Sete cores desiguais.
Chilram aves morre o dia
E vertem sangue os sapais..."Raul de Matos
Labregoísio sentiu a chapada forte que Abrenúncio lhe deu no cachaço e voltando-se lentamente perguntou: era mesmo necessário? Abrenúncio fez tenção de abanar a cabeça afirmativamente quando foi interrompido pelo real chapadão que Romualdo lhe espetou na testa, parecendo-lhe ter ouvido o eco dentro da cabeça.
- Temo que isto não tenha acabado aqui! - Declarou Romualdo com ar zangado. Abrenúncio mordia o lábio de irritação quando surgiu Anacleto, que tinha ficado para trás a apertar os atacadores dos sapatos, e, sem pré-aviso, começou a distribuir chapadas por toda a gente: na testa de Abrenúncio, na cara de Romualdo no braço de Labregoísio, que se tentava defender a todo o custo. A situação era tensa e os presentes miravam-se com desconfiança e cautela. As marcas por todo o corpo começavam a dar um ar rosáceo de sua graça e a fazerem-se sentir no incómodo que eram para os seus portadores.
Depois de mais uma chapada de mão aberta que lhe apanhou parte da testa e parte do olho direito, Romualdo, que era o mais pragmático do grupo, resolveu por os pontos nos ii. Largou um estaladão na orelha de Anacleto e declarou:
- Irmãos! Receio que tenha chegado a hora de partirmos. A situação torna-se insustentável.
- É verdade! Pois claro! - Concordavam os outros, que agora se auto-flagelavam com os olhos postos em Romualdo.
- Como nota futura sugiro que para a próxima vez alguém se lembre de trazer repelente para mosquitos. Isto de andar à estalada é muito bonito mas começa a ser cansativa esta batalha contra as melgas.
- Tem razão! – Concordaram todos, e ao som de chapadas secas a ecoar nos corpos, de lástimas e pruridos, abandonaram apressadamente o sapal. Na Ria, como no poema, o sol incendiava o horizonte em sete cores desiguais.
Para a Fábrica de Letras - Os Problemas Resolvem-se À Chapada
16 comentários:
10 de junho de 2011 às 16:56
Sabe-se lá quantas melgas não serviram de pretexto para, sob a forma de uma chapada, se vingar um rancor antigo... =)
10 de junho de 2011 às 17:25
Pois :)
10 de junho de 2011 às 18:19
ah ah ah... boa história a deste passeio! E eu que já estava preocupada por não teres colocado uma bolinha vermelha no canto superior direito do post!
10 de junho de 2011 às 18:34
Ehehe
10 de junho de 2011 às 22:48
Fiz um comentário a este post.
Não o recebeste?
:)
10 de junho de 2011 às 22:56
Não!? Deve ter falhado qualquer coisa.
10 de junho de 2011 às 23:34
Estava curioso para saber a razão de tanta violência pura e sem sentido: melgas, essas grande put$%!
Muito bom, como sempre,
10 de junho de 2011 às 23:37
e os melgas também. :)
11 de junho de 2011 às 15:25
Magnifica a volta que deste ao tema deste mês!
Gostei
11 de junho de 2011 às 16:24
Muito bom e inesperado o motivo das chapadas. :)) Gostei imenso! Boa participação! Beijo
11 de junho de 2011 às 17:43
@Sus: Obrigado Sus, volta sempre.
@Eva: Obrigado Eva, fico contente por teres gostado.
12 de junho de 2011 às 05:16
rs...muito show!parabéns.bjs
13 de junho de 2011 às 00:45
Mas que estória! : )
13 de junho de 2011 às 12:06
:)
13 de junho de 2011 às 13:22
Não sabia onde nos levaria tanta chapada, mas o fim foi original. Não estava nada à espera.
Num ataque de melgas, elas escolhem sempre o meu parceiro do lado.
13 de junho de 2011 às 19:35
pois.
Enviar um comentário