- Ainda vais gostar de mim quando eu for gorda e careca? – súbita questão feminina.
Era Zubaida quem inquiria. Labregoísio estremeceu: seria esta uma pergunta armadilha? Daquelas artilhadas para pensarmos que o desarmamento é possível; daquelas que nos levam a pensar que a resposta é só cortar o cabo vermelho no último segundo e estamos safos.
A última vez que cortara esse cabo vermelho à confiança, todo o mau feitio de Zubaida explodira-lhe em cheio na cara. Ficou um mês a pão e água, no sofá, com os cães e um cobertor. Agora que tudo voltara à normalidade, que os tratados de paz conjugais haviam sido assinados, que nada de novo havia a oeste do quarto de dormir; eis que Zubaida larga um engenho de consideradas dimensões no hall de entrada.
- Estou à espera – Insiste Zubaida. A contagem decrescente inicia-se. Labregoísio olha para o relógio digital preso ao dispositivo da questão, que presumia ser explosiva, e também ele se liquefaz em rios de suor. Avaliando rapidamente o tamanho e peso da coisa, Labregoísio chega à conclusão que é todo o prédio, senão mesmo o bairro, que está em perigo. Não existe portanto, margem para erros de linguagem, gaguejos ou evasões floreadas.
Do painel principal da bélica interrogação, Labregoísio sabe que tem que evitar a todo o custo os fios vermelhos da gordura e os castanhos da calvície, restando apenas os azuis de neutralidade incógnita. Que fazer? A contagem decrescente, em vermelho implacável, parecia acelerar: 8,7,6,5…Labregoísio descarna os cabos azuis e dá-se conta que a única solução será executar um bypass de charme…4,3,2,1…
- Minha flor! Quando fores gorda, se isso chegar a acontecer, o que não me parece possível, haverá nesse caso mais mulher para amar. E então, como careca já eu sou, seremos o casal perfeito: duas almas gémeas em dois corpos espelhados.
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17 comentários:
23 de novembro de 2010 às 20:22
Felizes para sempre?
23 de novembro de 2010 às 20:25
Felizes por enquanto.
23 de novembro de 2010 às 21:23
ninguém gosta de mulheres gordas e carecas eheheh
pode amá-las, mas isso é diferente
23 de novembro de 2010 às 21:54
Labrego(ísio), um homem com receios mas que,contrariamente ao habitual, encontrou a questão certa, no momento certo e único.
Gostei.
23 de novembro de 2010 às 22:03
@brita: A Sinead O'Connor, agora 'tá um bocado gorda. :)
@desejo:Tem os seus momentos, o Labregoísio.
23 de novembro de 2010 às 22:27
Coitados do Labregoísio e da Zubaida... eles não sabem, mas já não se amam.
23 de novembro de 2010 às 22:35
Hummm, acho que percebo o teu ponto de vista, Luísa.
24 de novembro de 2010 às 11:24
por muito figurativo que isto seja, confesso que no outro dia fui assaltada por uma questão semelhante. Será que ele vai gostar de mim? Apesar de sermos mais que o corpo, somos também isso. Poderemos amar as dentaduras postiças, as artroses... Enfim, às vezes penso nisso
24 de novembro de 2010 às 11:48
Se envelheceres junto da outra pessoa penso que não se notam tanto essas marcas do tempo. É uma questão de relatividade.
25 de novembro de 2010 às 11:25
Labregoísio é um homem inteligente e com muito amor para partilhar. Eu sabia! Kisses
25 de novembro de 2010 às 12:05
;) Parece que sim.
28 de novembro de 2010 às 11:41
O corpo é só um meio de transmitir a mensagem, massssssssss as barbies vêm estragar sempre tudo!
Corpos perfeitos povoam as cabeças do homem e as mulheres deixam-se levar, ou não fossemos nós sensíveis,vaidosas e muitas vezes inseguras.
Mas afinal, como será o Labregoísio daqui a uns anos?
É que ambos envelhecem e os corpos alteram-se.
Mas ele esteve muito bem e só pela última frase eu perdoava-o.
28 de novembro de 2010 às 17:22
Bem dito essa do corpo servir para transmitir uma mensagem, muito zen.
7 de dezembro de 2010 às 14:19
Homens... o charme que lhes é indiscutível (pelo menos a alguns), parece "salvá-los" sempre.
7 de dezembro de 2010 às 14:26
ehehe
10 de dezembro de 2010 às 12:30
Amei, amei, amei!!!
E quase morri sufocada ao conter a respiração perante o pânico do pobre Labregoísio!
Muito bem!!
10 de dezembro de 2010 às 15:44
Acabou tudo bem :)
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