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#345

| segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013 | |

Foi só depois de ter batido com a cabeça pela segunda vez que me apercebi que já não sou uma pessoa normal. Insociável desde cedo; vivo para o consolo de não comunicar com ninguém: único sobrevivente dum Apocalipse autista.  
Nas viagens constantes que faço ao passado lanço a âncora no fundo da memória. Atolo-me quase sempre na escuridão do lodo reminiscente enquanto chafurdo na ânsia de imagens felizes. As lembranças comportam-se qual areias movediças; afundo tanto quanto me inquieto.
Agora quero bater com a cabeça outra vez, a terceira, que oblitere para sempre a recordação do tempo passado. Limpo e vazio viajo para as Ilhas Trobriand. Nasço ali um homem novo, sem pecado, puro como Adão. Convivo jovial com os argonautas do sul e nado à solta com os tubarões. Sem dor, sem memória, sem passado. 

5 comentários:

Anónimo Says:
18 de fevereiro de 2013 às 21:53

adoro (Te)

luisa Says:
18 de fevereiro de 2013 às 22:11

Três vezes a bater com a cabeça chegarão para o total esquecimento e para uma redentora renovação? É que já devo ter batido com a cabeça mais vezes do que isso e não consegui eliminar a dor.

mz Says:
19 de fevereiro de 2013 às 19:29

Então temos um homem novo.
Bem vindo!

Cá para nós, esses tubarões vão comer-te a parra, cuidado!

Briseis Says:
27 de fevereiro de 2013 às 12:22

E de que servirá começar um homem novo, se ele irá acabar fatalmente por fazer os mesmos disparates?

El Matador Says:
27 de fevereiro de 2013 às 17:21

não percebes nada disto :)